VÔ JOSUÉ, SAÚDE FOI COMO FLOR E OUSADIA DE SEU PAI/MÃE SANT’ANA

Foto de Gisele B. Alfaia

Perguntei ao cidadão, sentado ao meu lado, como fora a escolha do nome com o qual está envelhecendo e finalizando os seus dias de vida. Sem pestanejar, se pôs a me contar com os incrementos de sua narrativa e com sua forma criativa de falar e de calar com os pensamentos em terna convulsão e com a memória bem ativada.  

O nome Sant’Ana que o pai buscou, colocava-me em sintonia com a avó de Jesus, nos dias finais do mês de julho, mais precisamente, dia 26, no qual se celebra o Dia dos Avós. Um homem que tinha conhecimento das histórias bíblicas, pois costumava abrir o livro sagrado para conhecer o que Deus queria dizer-lhe, embora lendo que Deus era um juiz implacável e conquistador

no Antigo Testamento e não o Pai amoroso revelado por Jesus .

Disse-me que nascera muito pequeno e foi acometido do “mal de sete dias”. Eu tentei explicar que se tratava de tétano umbilical. Pois bem, o menino estava ofegante, quase para morrer, quando o Sr. Sant’Ana abriu a bíblia e encontrou o nome JOSUÉ, numa passagem que o impressionou acerca da conquista e da distribuição da terra para as tribos do antigo Israel, que nada tem a ver com o Estado de Israel, da atualidade sanguinária, contra o povo palestino. O Josué da Bíblia, quando líder abatido pelos anos, pede ao povo que seja fiel a seu Deus, sabendo escolher a vida e a benção, rejeitando a opressão e as lutas pelo poder dominador, sendo contra a monarquia como num ensaio democrático de bem viver.  

Foi, com essa leitura, que o pai Sant’Ana afirmou o nome do filho. A partir desse momento, o pequeno Josué começou a vencer o mal do tetano, recuperando-se e gravando, no seu coração a jura do pai de que iria batizá-lo, buscar as vacinas necessárias e registrar o filho com esse nome poderoso. Assim aconteceu.

Já crescido e bom de conversa, criativo nas ideais, conheceu um português dono de uma panificadora na sua vizinhança, que o convidou para vender pão e salgadinhos pelas ruas. Josué foi um grande vendedor, entregando, todos os dias, o resultado da venda, conseguindo assim a confiança absoluta do patrão, que se tornou muito amigo. Conta que no balneário do Parque 10, na "Manaus de Antigamente", era seu ponto preferido de vendas. Bastava encontrar por lá os banhistas, que vendia tudo.

Certa vez, teve uma surpresa inesquecível. O português lhe entregou um grande tabuleiro, cheio de empadas, coxinhas, pão doce, risoles e mandou que fosse vender tudo naquela tarde. Voltou pelas 16 horas com o tabuleiro vazio e entregou o dinheiro das vendas. Recorda da alegria que sentiu quando o português disse: "Dessa vez, meu querido vendedor, esse dinheiro todinho, da venda,, é seu" . Chegou em casa e contou para a mãe que reforçou com o conselho: "Filho, seja honesto ate o fim da vida, fale com todos, mas não se contagie e nem imite o comportamento daqueles que não valorizam os pais".

O velho português teve que entregar a casa alugada onde funcionava a padaria. O Josué foi ser auxiliar do pai que era padeiro. E assim viveu e aprendeu que "não só de pão vive o homem", mas sem ele, também não vive. Hoje, chora quando constata que muitos passam fome e nem tem pão velho ou torrado para comer.

O Josué, dessa história, tem orgulho do seu nome, comporta-se como pacificador na vizinhança, sempre disposto a dizer sábias palavras a quem se sentir com vontade de vingança e de controlar a vida alheia. Vive na liberdade a sua fé evangélica, sabendo conviver com os católicos quando esses ocupam-se em seguir Jesus mais do que cumprir as obrigações da Lei de Moisés. Ele sabe que Jesus veio para que todos se amem e vivam a fraternidade, importando praticar o bem, sem julgar as pessoas como más ou condenadas.

Nelson Peixoto, dia 26 de Julho de 2025 - Avô da Lívia.