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UMA MARGARIDA NO CÉU, MAS ERA LUZ, LUÍSA.

  • Foto do escritor: peixotonelson
    peixotonelson
  • 16 de jul. de 2023
  • 4 min de leitura

Atualizado: 27 de jul. de 2023


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Era uma ou mais vezes que uma "flor", vestida de branco, tornava sua vizinhança, à Rua Vitória Régia, bairro de S. Jorge , em Manaus, um canteiro de preces para agradecer e louvar a Mãe de Jesus. Uma mulher que nasceu, em Aracati, CE, num dia de sol forte e lindas praias. Não era para ter nome de flor e sim de luz. Luísa da Silva Pereira, sendo assim registrada, contrariando a vontade da avó, e vencendo o desejo da mãe. Mas ela se tornou flor e luz. Com o tempo, a mãe escutou que todos a chamavam de Margarida e ficou conhecida assim, corajosa e terna com pouco saber, mas extremamente inteligente.


Na rua onde morava, na proximidade dos vizinhos, ela resplandecia. Juntavam-se na casa dela atraídas pelo magnetismo da fé e da sua dedicação, cuja história de vida, sua filha Regina Fatima me contou para completar o que aprendi com seu testemunho de vida, quando entrava em contato comigo.


Uma infância distante daqui, no nordeste do Brasil, onde nasceu e aprendeu a cantar o Ofício de Nossa Senhora e os versos que nunca esqueceu, rezando por onde passava. Estudou em Colégio Salesiano e se tornou uma devota de Nossa Senhora Auxiliadora. Tinha uma fé inabalável e um jeito muito próprio de rezar.


Casou aos 14 anos, tendo seis filhos, dos quais Deus Pai, em seus desígnios chamou dois. Separou-se e viveu com grandes necessidades, lutando para criar os filhos que restaram como benção. O mais velho ganhou o nome de João Bosco, o segundo de João Batista e as duas filhas, Marcilene e a caçula Regina de Fátima da Silva Pereira, que se tornaram tão minhas amigas quanto a sua mãe Margarida.


Eram tantas as dificuldades, depois que ficou viúva, que um amigo de infância apareceu como anjo para ajudar. Permitiu que levasse o seu filho mais velho para Manaus, onde sonhava também ir viver. Depois de seis meses, Margarida toma uma decisão difícil. Vende a casa que era seu único bem, deixado por seu pai, e vem ao encontro do filho, em Manaus, recebendo o apoio da família do seu amigo de infância.


Aos 40 anos, chegou em Manaus, trazendo na bagagem muita esperança, fé e vontade de lutar para acabar de criar os filhos. Entre seus muitos trabalhos, o mais prazeroso foi trabalhar na Igreja de Santa Luzia, Bairro da Matinha (Presidente Vargas). Nesse trabalho da Igreja teve muitas alegrias, conheceu pessoas maravilhosas que permaneceram em seu coração. Ajudar o próximo e fazer caridade era uma de suas virtudes mais fortes. Tinha uma alma transparente e sabia fazer grandes amizade. Na sua simplicidade era muito sábia. Sempre muito comunicativa e alegre tinha uma palavra de conforto para com àqueles que encontrava.


Ao sair da Matinha, foi morar no São Jorge, mas continuou sua trajetória de vida e de amor, sendo muito bem acolhida pela comunidade de São Dimas. Amada por todos, ganhou o carinhoso apelido de “Bíblia Ambulante” por seus ensinamentos e palavras cheias de sabedoria. Com a saúde frágil e impossibilitada de ir à Igreja, resolveu reunir os vizinhos e amigos em sua própria casa, tornando uma comunidade de fé e de vida, continuando sua prática missionaria, descentralizada do templo.


Além do amor que sentia por sua família e seus vizinhos, possuía a ternura franciscana com suas plantinhas, cultivadas com carinho até os seus últimos dias de vida. Eu a conheci no humilde exercício de sacristã da igreja da Santa Luzia da Matinha. Mas, como vimos, sua vida contada pela filha Regina foi grande, desafiante e abençoada em seu logo caminho, chegando a falecer aos 83 anos.


Recordo que cantava versos inteiros do Ofício de Nossa Senhora. Aprendera a cantar em seu tempo de convivência com as Irmãs Salesianas, para nunca mais esquecer e cantar sempre por onde andava. Músicas e versos de louvor que sempre repetia. Por onde morou, como dissera a Regina, reunia os vizinhos, cultivava flores e se orgulhava do tempo que servia o altar.


Alegre e comunicativa, prendada e boa cozinheira celebrava aniversários com os amigos que se juntavam com ela. Sempre admirei o carinho das filhas Regina e Marcilene, que, de forma terna e assertiva, sabia conversar com os netos. Margarida acompanhou os dias que antecederam a mudança do meu sacerdócio ordenado para o sacerdócio do batismo, que é comum a todos que se põem a servir o Reino de Jesus, sem ser do clero ou da hierarquia da igreja. Para mim foi uma retomada consciente, como filho amado de Deus, construindo família, que a D. Margarida sempre abençoou. Assim aconteceu pela bondade de Deus e as orações que ela fazia por minha família.


Certa vez, quase como o gesto de Jesus, sentados numa mesa, repartimos a sardinha assada como gesto de uma aliança que perdurou comigo e a Luzinete, durante 15 anos, sem nos ver. Temporada quando saímos de Manaus. O reencontro aconteceu através do facebook da sua filha Regina. E a partir daí, nos aniversários que celebrava, próximo ao Natal de cada ano, nós e toda a vizinhança da rua Vitória Régia agradecíamos o coração da Margarida que, como flor, exalava o perfume de uma vida em comunidade.

Aprendemos com ela que só o amor é digno de fé.

(NP)

 
 
 

4 comentários


Regina de Fátima Silva Pereira
Regina de Fátima Silva Pereira
28 de jul. de 2023

Muitas pessoas sonham em ver um anjo, mas eu tive a sorte de passar grande parte da vida ao lado de um. Mãe tenho muitas saudades da senhora, tanta que as vezes parece que o meu peito vai explodir de tanta dor, não importa quantos anos passem, vamos sempre te amar.

O amor que vc espalhou pelo mundo ficara eternizado. Assim como a saudade que vai morar para sempre dentro dos nossos corações...

Saudades Eternas

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kellen karol
kellen karol
28 de jul. de 2023

Lindo relato conheci ainda criança e tive a felicidade de fazer parte da família tenho orgulho de meus dois filhos ter o sangue de D.Margarida, mulher guerreira e muita fé quanta saudade

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zeilavital
27 de jul. de 2023

Saudosa Dona Margarida, realmente uma mulher de Fé de um coração sem igual…Quando chegarmos em sua porta sempre éramos recebidos com sorrisos e brincadeira e sempre chamava as filhas para trazerem um café um suco um bolo… Lembro-me que um dia triste fui conversar com ela, e com toda sua sabedoria me falou: Com Fé e com os joelhos no chão eu iria ver as mudanças acontecerem… E através dos seus conselhos eu vi a mudança acontecer. Obrigado Deus por ter concedido a dádiva de eu ter conhecido essa grande Mulher!

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Pillar  Farias
Pillar Farias
25 de jul. de 2023

Uma homenagem que nos faz acreditar que tudo que é feito, vivido com AMOR permanece para sempre. Meu testemunho é que dona Margarida não precisava de muito esforço para conquistar o afeto e a admiração das pessoas: um encontro, quinze minutos de conversa já bastava. Foi assim comigo.

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