UMA FLOR DA PARAÍBA DESABROCHA NO AMAZONAS
- peixotonelson
- 10 de jun. de 2023
- 3 min de leitura
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Encontrei-me com a Dona Verbena, uma senhora miudinha e viçosa cheia de vida. Nome de flor, que, segundo ela mesma, teria escapado de ser pisada pelas botas de soldados da guerra ou naufragada pelos submarinos, que se aproximavam de sua terra natal.
Certo dia, encontrei-me com ela que caminhava com dificuldades, por ter o joelho machucado pelo reumatismo.
Eram 82 anos de vida e de lucidez, embora com poucas lembranças da Paraíba. Viera com o pai e a mãe aos 3 anos para o Amazonas, durante o tempo da 2ª Guerra Mundial (1940-1945).
Conta o que o pai dizia para justificar sua vinda da Paraíba para os seringais do Acre, viajando de navio grande, de canoa e de lombo de burrico, até chegar a colocação e receber sua estrada de seringais: "Fugir da guerra, trabalhando no exército da borracha e longe das batalhas de fogo para o corte das seringueiras".
Porém, temia junto com outros retirantes, em viajar, na costa brasileira, onde os alemães já tinham afundado navios da Marinha Mercante, trazendo muita dor e despertando a vontade de fugir. Quem sabe se, para montar um exército de soldados a fim de extrair látex da Amazônia para abastecer guerra! Talvez fosse exagero dizer que a guerra chegaria às terras da Paraíba, mas no mar já chegara!
Desde fevereiro de 1942, navios mercantes brasileiros eram torpedeados por submarinos alemães, uma vingança porque o Brasil do Presidente Vargas rompera relações diplomáticas com a Alemanha e a Itália, tendo o governo nazista tomado essa decisão de afundar navios. O submarino U-506 chegou a afundar 5, instalando o medo e terror na população. Mesmo assim, o pai da Verbena juntou a família e aventurou-se a viajar na costa brasileira até entrar no Rio Amazonas. Chegou ao Acre.
Nossa doce amiga Verbena contou ainda da nova fuga que seu pai precisou empreender para fugir dos seringais com o trabalho análogo à escravidão. Dessa vez, o risco de morrer pareceu maior. Conta-se o que a Verbena repetiu; "Quem quisesse fugir, deveria morrer". Morrer à míngua, sem saldar quase nada, era um empurrão para escapar do seringal. Não faltou coragem para o Sr. MANUEL CORREIA, o pai, para fugir são e salvo e chegar a Manaus com a família.

Daí, Verbena, sem espinhos e mágoas, começa sua aventura de vida protagonista, transformara em indígena amazônida. O pai alcança um espaço para viver na beirada do igarapé de São Raimundo, mais nas bandas da Matinha (Bairro Presidente Vargas) e, de lá, consegue um terreno na floresta próximo ao igarapé do Mindu, onde hoje é a Vila Amazônia, em Manaus, AM.
Crescida e estudiosa, tomou conta dos irmãos quando a mãe morreu, desenvolveu um grande amor pelo pai herói, que sempre a protegeu. Certamente, a imagem de Deus como pai amoroso imprimiu no seu inconsciente o jeito terno, determinando os passos do caminho da vida cada vez mais cidadã.
Verbena, uma paraibana que floresceu como mãe e mulher trabalhadora, igual às "Amazonas" da mitologia grega, sem arrancar os seios para criar os filhos e resistir às agressões das outras guerras e violências. Viveu de amor solidário.
Como trabalhadora, cuidou dos irmãos pequenos, casou-se, ficou viúva e cuidou dos filhos do primeiro marido e do segundo, do qual precisou se separar para prosseguir acreditando na vida. Trabalhou com crianças em creches e dedicou-se aos idosos no Dr. THOMAS, nos anos 90.
Sua trajetória foi rica de experiências. Do medo da guerra e da exploração seringalista, fugiu para seu projeto que ia se revelando a cada passo. Seus trabalhos como mulher valente, não apagaram a ternura do seu coração e não a tornaram muda para ensinar remédios caseiros que aprendera com o pai.
O pedaço de terra, ainda floresta, que recebeu do governo, repartiu com quem chegava, lutou por luz elétrica e água encanada. "É uma flor valente para melhorar a vida," dizem os vizinhos.
Hoje e sempre estará sorrindo e conversando com aqueles que se encontram para ouvir o que ela passou na vida, fazendo o bem, apesar dos sofrimentos que lapidaram sua vida com o cinzel da bondade, tal como o pai Manuel Correia.
A Verbena repetiu o que nunca esqueceu da sabedoria que aprendera com o pai. "O sofrimento serviu para lapidar minha vida e me fazer feliz". Quando eu escutei da Verbena essa verdade, eu disse:
"Serás uma flor no vaso mais bonito, perto de Deus, porque perfumaste com a bondade, aprendida com o teu pai, para esculpir a marca mais fiel em tua posteridade"











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