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UM CASTANHEIRO APAIXONADO - ROMANCE DE UM EX-BATERISTA.

  • Foto do escritor: peixotonelson
    peixotonelson
  • 25 de nov. de 2023
  • 4 min de leitura

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Escutei do meu amigo Bacurito* apenas uma parte da história de um dos seus velhos amigos. Construí esse texto junto com ele, que é um bom contador de casos curiosos e edificantes.

Numa cidade ribeirinha, um jovem chamado Mangarito aprendeu a tocar bateria cantando na igreja, recebendo o amor de seu pai e dos padres que conheciam seu talento musical e sua desenvoltura. Aconteceu que a música o entusiasmou em demasia, causando desgosto em seu pai, porque deixou de estudar. Entrou numa banda, saiu de casa e foi viver aventuras de paixões ligeiras e predadoras das meninas que conquistavam para uma noite fugaz. Ficou mal falado e se tornou o terror das famílias pobres que mal tinham tempo de cuidar das meninas que estavam crescendo. Ele e sua turma de malfeitores abusavam sexualmente delas, sem ocorrer nenhuma denúncia. Nunca nenhum deles fora preso, pois era no tempo de um machismo sem controle e de pais sem saber que fazer diante dos abusos sexuais de crianças e adolescentes.


Viveu assim uns anos, mas não esqueceu a casa do seu pai. Correu de muita espingarda até que, um belo dia, resolveu voltar. O pai aceitou, e os irmãos trabalhadores do castanhal da família concordaram. Seu olhar malicioso, entretanto, foi certeiro sobre uma mocinha que ajudava na casa, como empregada menor e doméstica, filha de uma viúva de quem o pai era compadre.

O pai percebeu o olhar de cobiça e, já conhecendo o filho, mandou a menina de volta para a mãe. Passado uns dias, o filho penitente disse para o pai que queria se casar com aquela menina de 15 anos. Um amor diferente tomou conta dele, "uma princesa", como relatou o Bacurito.

Queria deixar a vida de solteiro e ter uma família. Pediu que o pai o ajudasse."Tome aqui esse terçado e essa bota e vá trabalhar no castanhal, junto com teus irmãos. Depois você casa, se a menina quiser". A mãe da princesinha, que sabia a má fama do Mangarito, não aceitou nenhuma proposta de casamento da filha com aquele perdido malfeitor das meninas por onde andava.


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O futuro noivo parece que tinha mudado de vida, aceitou trabalhar no castanhal, deixou sua vida louca e foi dar provas que seu propósito era verdadeiro. Sofreu muito para aprender a abrir os ouriços de castanha, calejou as mãos e o traseiro, enfrentou a boca das cobras, matou onça, mas passou todo o fábrico provando que sua vida mudara completamente, sem perder o intento de casar para ser feliz e com quem queria passar o resto da vida.

A princesa o encantou porque Deus fez o Amor. Desde que pôs os olhos, queria ter filhos com ela. Só queria Mariazinha. Depois da prova do amor vivido a distância no castanhal, sofrido e penitente, saldou um bom dinheiro.


Teve o perdão do pai e dos irmãos para não pagar as dívidas dos ranchos que pegou para que não morresse de fome. Não foi condenado como abusador de crianças, porque não havia delegacia contra crimes sexuais, nem a cultura de proteção, através de denúncias como hoje. Mas teve sua pena permutada pelo pai. Pegou chuva, morou dentro da mata, um casebre e um rádio de pilha para escutar o carimbó do Pinduca e ouvir nas madrugadas mensagens religiosas. No final de semana, lembrava o Bacurito que os irmãos dançavam um com o outro. Eram todos irmãos na dor e na alegria como deveria ser seu casamento com Mariazinha.

Resolveu construir sua casa, foi tirar madeira, serrar e construir do jeito da região. Casa de taipa, com assoalho de tábuas e as folhas de alumínio na cobertura. Ficou feliz ao saber que o pai e a mãe da noiva estavam de acordo e preparando o casamento, no religioso e no civil, quando o padre passasse no local. Assim foi feito. Festa bonita, mas com a exigência de que só passaria a morar com a esposa, depois de 8 dias. Desespero do Mangarito e habilidade do pai que virou advogado.

Nesse assunto, o pai interveio em favor do filho que já ameaçara ir embora para Manaus e seguir na solidão da vida sem família e voltar ao crime. O acordo foi feito e passaram a ser marido e mulher, sem os oito dias de mais espera. Com problemas de saúde da Mariazinha, depois de algum tempo, partiram para Manaus a fim de começar a ter e a criar os filhos. Hoje, estão envelhecidos, criando asas para a eternidade. Ele, guardião noturno de casas. Ela, sua única deusa do coração, cuidando de uma lanchonete onde trabalha sem parar.

*Obs.: O Bacurito, que me contou essa história, sabe que para dar uma reviravolta na vida, temos que ter um grande amor. Pode ter sido Jesus, que revelou que Deus Pai nos quer bem e é quem dá as forças para mudar de vida. Falando de si, disse-me com esperança que tudo pode ser diferente daqui para frente, quando deixar de beber cachaça. Vai enterrar as tristezas, cuidar da saúde, continuar a ter amigos que ainda não tiveram a força interior para vencer os prejuízos. Viver em família não pode ser um sonho de poucos, mas de todos que põem o coração e o futuro nas mãos de Deus.


Obs. As fotos são cedidas pela artista plástica Gisele Braga Alfaia - @giselealfaia

 
 
 

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