UM AMIGO DE ABELHAS NO PARQUE ENCONTRA UM CORAÇÃO QUE O VÊ.
- peixotonelson
- 10 de fev. de 2024
- 3 min de leitura
"Luciano veio de novo pedir açúcar. Mas estava muito pálido e com as roupas sujas e pediu para não tirar foto dele, porque não estava bem apresentado. Perguntei onde está dormindo e ele tornou com a clássica resposta: - Por aí... Na verdade, ele sempre acha alguma casa abandonada para dormir. Diz que é perigoso dormir na rua. Durante o dia, perambula pelas ruas do bairro. Hoje, ao contrário de outras vezes, ele parecia triste. E se desculpou comigo "por estar me incomodando, segundo disse".
E, mais uma vez, se foi claudicando, com a sacolinha de açúcar... Também fiquei triste..."
Um amigo distante de Manaus, fez-me esse relato do Luciano porque, tendo olhado para ele, teve compaixão, adotando-o como "assistido", ao mesmo tempo dando um exemplo de simplicidade no trato afetivo com moradores de rua. Meditei neste relato e inventei um apelido para o Luciano. Certamente, um nome de quem traz na personalidade uma luz de consciência para práticas de solidariedade.
Fui em busca de uma história criativa daquele que começo a chamar de Belito, nome derivado de abelha, com o intuito de contestar qualquer atitude bélica ou preconceituosa contra moradores de rua. Imaginei ser um doce de homem, apesar das amarguras que a vida lhe deu. Foi criado numa tenda de papelão e lona, na sombra de um parque, próximo de uma árvore onde abelhas sem ferrão tinham uma colmeia.
Contam os velhos frequentadores do parque que viam um menino rondando aquela árvore com os cabelos encaracolados salpicados de abelhas. Certa vez, viram aquele menino magro lambendo o tronco da árvore. Seu jeito de coletar o mel era sustentável e econômico. Usava uma vara para cutucar o furo aberto da árvore que servia de passagem para o enxame. Como sábio cuidador pensando nos dias que não tinha o que comer, matava a fome com o mel mais puro da natureza.
Belito aprendeu a amar as flores do parque porque sabia e via o beijo diário das abelhas e das borboletas. É o momento de dizer que aquela era a marca pessoal da delicadeza do Belito. Apesar de toda sua história de perdas, apreciava a natureza. Um certo comprometimento mental em consequência da forme que passou em sua primeira infância. Peregrina pelo bairro e, chegando à porta de uma casa, apertava a companhia de forma ininterrupta, o que gerava stress a quem vinha abrir para atendê-lo.
Quase sempre depois de uma reclamação grosseira, com voz humilde e mansa, fazia seu único pedido: "podes me dar um pouco de açúcar?". Esta súplica derrubava a grosseria de quem vinha até a porta e via naquele homem a doçura luminosa que o habitava.
Aprendeu a com as abelhas e as borboletas a andar livre e a sobrevoar sobre campos e parques. E, saltitando de casa em casa, corria para não apanhar e fechava os ouvidos para os gritos dos importunados. Ele sabia ouvir o leve barulho das abelhas voltando no fim tarde para a colmeia. Estou certo de que tinha inveja delas por dois motivos: viver sobre a doçura do mel e de uma casa para habitar.
Conversando com o autor do texto, que abriu a história do Belito, fiquei admirado com a oportunidade que teve de pensar que o seu gesto simples de dar açúcar foi o começo de uma amizade que se tornou uma presença de apoio que o Belito encontrou no caminho de sua existência, sem precisar levar para casa ou deixar que morasse com ele.
Digo que aconteceu uma forma genuína de amizade social com pessoa necessitada e sem direitos de uma vida digna. Diria até que aconteceu uma aliança espontânea, um tipo de “adoção” da necessidade que começou com a doação de um pacotinho de açúcar, que simbolizava para o Belito a ternura de Deus que não esquecera dele.
Perguntaria para adentrar no tema da Capanha da Fraternidade 2024: Nós temos algum morador de rua com o qual estabelecemos um relacionamento de AMIZADE SOCIAL? Quantas pessoas descartadas pels sociedade eu ajudo a viver dignamente? Quantos amigos eu tenho entre as pessoas em situção de rua?
"VÓS SOIS TODOS IRMÃOS E IRMÃS" (Mt, 23,8) - A CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2024 TEM O TEMA: FRATERNIDADE E AMIZADE SOCIAL.












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