UM AMIGO DA ILHA DO TESOURO
- peixotonelson
- 18 de mar. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 19 de mar. de 2023

Fios de água se avolumaram e caudalosamente se concentraram e formaram o Lago do Mamiá, Coari, Am (Rio de Ouro). Às margens, por aquelas bandas de terra firme, debruçavam-se as areias de praias brancas e de pontas de barranco argiloso. Lá, nasceu o amigo a quem dedico esta crônica e escrevo uma parte de sua história de vida. Ele se chama Francisco Fialho (82 anos), gozando de plena saúde.
Encontrei-me com ele, demoradamente, quando aconteceu a confraternização de Natal de 2022, que juntou colegas do Seminário do Santíssimo Redentor e as amigas que se reúnem, todas as terças-feiras, na Capela "Santuário Santíssimo de Maria", que é um anexo do Manaus Plaza Shopping.
Naquela ocasião, meu amigo estava numa conversa animada com o D. Gutemberg. Fui para perto a fim de ouvir o assunto que era o futebol, recordando as alegrias do passado. Ora, os dois tinham sido bons atletas nos tempos áureos dos anos 50, como jogadores bem entrosados e campeões no Seminário de Coari. Um seguiu caminho de discipulado de Jesus e perseverou como padre missionário redentorista, e depois como bispo de Coari, Am. Ambos eram mútuos amigos. Um vivendo com simplicidade e o outro, uma vida de cristão, educador dos filhos e marido da feliz da Diva.
O amigo Fialho, com o qual conversei, posteriormente, fez seu caminho com as bênçãos de Deus e construiu sua família. Está em plena forma física e espiritual. e me foi contando uma parte de sua história de vida. Como bom atleta, dispensou convites para ir jogar em times famosos. Afinal, era o filho mais velho, precisando ajudar os irmãos a serem criados junto com a mãe. Disse-me que nasceu às margens do Lago do Mamiá, lugar que me traz saudades do tempo de meu ministério e das belezas que contemplei, navegando sobre aquelas águas negras que vinham de muito longe para desembocar no Rio Solimões.
Meu amigo, desde pequeno, ia com o pai para as festas, que ocorriam, dentro do lago, e também nas ilhas do Rio Solimões. O pai remava horas e horas para divertir-se, levando o filho que acabava dormindo, enquanto o forró ganhava a noite toda. A mãe ficava, em casa, com os outros filhos pequenos. Numa dessas incursões, o pai descobre que na Ilha da Botija, Rio Solimões, a vida é mais festiva.

Resolve se mudar para lá, trocando as belezas calmas das margens do Lago do Mamiá pela correnteza do Rio Solimões, para viver na afamada e histórica "Ilha do Tesouro" que se chama Botija, cujo nome eu troco, por causa de bons amigos que por lá, ele e eu fizemos nos anos 80. Lembro da comunidade da "Vila Floresta", que rima nas músicas de Natal, "estava sempre em festa, fazendo da pequena comunidade um fraterno sinal".
O Fialho conta, como surpresa agradecida, que o Sr. Amadeu ia subindo o Rio Solimões, ao lado da ponta de terra, na costa do Mamiá, à margem esquerda da Ilha da Botija, quando perguntou ao Fialho se ele queria passar na casa dele e visitar sua mãe, pois bastava direcionar o barco para aquela direção, atravessando o rio. Fialho disse que não. Entretanto, ao longe, das margens da ilha, havia gente acenando e chamando aquele barco que passava. Aceitaram o convite e seguiram para a outra margem, na direção da casa do Fialho.
Uma surpresa triste na Ilha do Tesouro. A maior riqueza do Fialho, seu tesouro, sua bendita mãe, estava sendo velada. Tinha morrido na noite anterior. O povo chamou aquele filho para despedir-se e contemplar o corpo de quem o amou e cuidou dele e dos irmãos, apesar da ausência do pai que já tinha outra família. Daquele dia em diante, comprometeu-se em ajudar a criar seus irmãos menores.
Fialho, apesar do tesouro materno que perdera, a Ilha da Botija, na minha imaginação evoca o romance de Louis Stevenson, a Ilha do Tesouro. O mapa do segredo estava revelado, as lutas da vida estavam postas pela "mãe capitã" que pedia do filho Fialho para construir sua vida de família, mas prosseguir cuidando dos irmãos. E assim aconteceu.
Essa Ilha do Rio Solimões que se formou a partir de uma praia gigante, depois de grandes enchentes, no meio do grande rio, parecia guardar mistérios na alma de seus moradores mais antigos. Uma ilha que nasceu para abrigar no seu seio, ex seringueiros nordestinos que baixaram dos altos rios, depois do fiasco dos ciclos da borracha. Mas também, ribeirinhos de andanças em terra de várzea mais baixa, encontraram sossego naquela ilha que acolheu a todos e já não era inteiramente alagada nas enchentes. Até se dizia que a terra se elevara, milagrosamente, apesar de outras quedas de barranco, para nascer outras praias e ilhas, no rio abaixo. O Fialho e tantos outros jovens moradores foram em busca do "Tesouro da Juventude", em termos de educação, trabalho e profissão. Enfrentaram dificuldades e venceram. Olhando os passos da caminhada e as remadas na vida, meu amigo Fialho agradece a Deus e àquela mulher, sua mãe, que lhe ensinou e falou da Mãe do Perpétuo Socorro para nunca mais esquecê-la.
Por isso, que entre suas atividades, uma das mais importantes é estar conosco em oração, junto com sua esposa Diva, em todas as terças feiras. Uma companhia constante da fé, feita em comunidade, aos pés da Mãe de Jesus, rezando o terço e a Novena.
(NP)











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