SOLIDÃO E A SOLIDARIEDADE COM "CÃOPANHEIROS" DE RIO E DE RUA.
- peixotonelson
- 21 de fev.
- 3 min de leitura

Esta historia real, inicia-se no Alto Rio Juruá, no Amazonas. O idoso Batuel contou sua história, de dentro de uma canoa, onde alimentava, com peixes cozidos, seus três cachorros, ao lado do seu barraco plantado sobre toras de madeiras que flutuavam e dançavam nas ondas do rio. Sobre a esteira, de tábuas podres havia mais de 20 cachorros, com o pedigree de vira-latas.
O Batuel vivera longe em um seringal, quase perdido na floresta, ao lado de um igarapé de água corrente, onde todos os dias se "batizava" e sonhava com um infinito amor de uma mulher, difícil de encontrar naquelas distâncias perdidas do seu mundo fechado.
Aconteceu que, certa vez, estava flutuando na correnteza do riacho, com os olhos fixos nas folhas de um açaizeiro com frutos maduros. Resolveu subir na árvore. Lá de cima, antes de cortar o cacho, sentiu um olhar de mulher que lhe mirava. As faíscas dos olhos se cruzaram para acontecer uma adorável e pura, mas ligeira paixão com uma colombiana itinerante, talvez fugitiva dos amores cultivados nas florestas e nos rios.

O tempo, para o Batuel, foi quase de eterno amor sem fim. Mas ela fugiu com outro quando ele saiu para coletar o leite da seringueira nas tigelas de flandres.
O mundo do amor desmoronou e virou cinzas que amorteceram o coração para sempre. Ficou, desde então, sozinho com seu cachorro caçador.
Passou um bom tempo à procura de sua colombiana, mas seu objetivo era matar o seringueiro que lhe roubou seu único amor. Frustrado e pensativo resolveu aceitar a liberdade da mulher fugitiva e perdoou o seringueiro.
Foi tamanha a solidão, que abandonou a "colocação" com suas estradas de seringueira, fugindo em sua canoa com seu cão mais fiel, remando vários dias, até chegar a uma cidade que ficava dentro de um lago, perto da boca do Rio Solimões. Passou a viver de biscates e foi se amofinando na solidão, que o fez aborrecido, triste e grosseiro. Cada vez que se sentia assim, pegava mais um cachorro de rua. De seus "cãopanheiros" se aproximavam como confidentes amigos. Conversava com os cachorros sobre sua raiva contra as mulheres, achando que todas não mereceriam seu amor, escolhendo dedicar-se ao cuidado dos cachorros abandonados.
Desse dia em diante, fez como gesto eterno de amor, viver como um monge, no meio dos cães em uma grande família "franciscana" ou comunidade. Diziam que ele encontrou nos animais mais amor e fidelidade do que com os seres humanos. Até contam que iniciou uma amizade com certa onça que rondava seu barraco de seringueiro apaixonado. Iniciou a treinar a linguagem do animal, alcançando uma sintonia que o chamavam de "Irmão da Onça".

De qualquer maneira, posso imaginar que o Batuel lembrou-me S. Francisco, que nos ensinou que quem cuida de bicho, certamente, ama os animais e vê em cada um deles uma razão para ser humano.
Lamento que o Batuel, decepcionado com a mulher que perdeu, conseguiu com muito esforço dar os primeiros passos para amar os humanos, como aconteceu, primeiro, com o pai do meu amigo Veltinho, que me narrou esta história.
A sabedoria bíblica relata no Salmo 104:21, "que os leõezinhos rugem pela presa e buscam de Deus o sustento", mas quando encontram carinho com os humanos, nos ensinam a melhorar nossa humanidade e o cuidado com a natureza.











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