SOLEIRA, BATENTE, E AINDA , PORTA FECHADA. POR QUE SERÁ?
- peixotonelson
- 20 de nov. de 2021
- 3 min de leitura

Meu amigo confessou, que não é cacto que fere as mãos de quem o socorre. Não é porco-espinho que nós o evitamos. Não dorme no mato, e sim na rua. Demorou contar e abrir-se em sua transparência. Não sei se era medo de ser menos amado, recusado ou porque ,quando o conheci, era muito falante, referindo-se a sua casa, como sonho perdido ou por encontrar.
Passado o 5⁰ Dia Mundial dos Pobres, eu, sabendo que dormiam num lugar permanente em praça arborizada, perguntei-lhes , de primeira: "e quando chove?" Responderam-me: "vamos para a porta da Igreja.
Eu conheci a Igreja JESUS DE NAZARÉ durante a pandemia, pois foi a primeira situada mais perto do meu novo lugar de moradia. Resposta que me levou a refletir e dizer, em voz alta para eles.
Sl 84, 10 - "Melhor é um dia nos teus átrios do que mil noutro lugar; prefiro ficar à porta da casa do meu Deus a habitar nas tendas dos poderosos".
Ouviram-me, mas não comentei nada. Despedi-me e fui passar pela frente da igrejinha, nova e bonita com um hall coberto, de chão de cerâmica, certamente frio. As palavras do Salmo começaram a ecoar em mim. Jesus de Nazaré e sua Mãe acolheram a todos.

Igreja ou Comunidade de Jesus de Nazaré, que tem tudo para "amar, sonhar, pensar e viver como Jesus", já cantava o Pe. Zezinho. Não julgar os poderosos, nem condená-los, por causar prejuízos, reproduzir o sistema de exclusão ou indiferença das ruas. O clima é de medo para quem não conhece os moradores de rua. Entretanto, vejo com alegria que, pelo menos, os dois que ficam nessa praça, falam e conhecem quase todos que moram por ali, mas estes, pelo pouco que observei, quase nunca têm o olhar para eles, apenas dão algum sinal que escutaram a saudação.
A certeza da solidariedade dos vizinhos não faltaria, caso pedissem ajuda para levar ao pronto socorro, uma consulta de rua ou algo parecido, como esquentar uma comida ou fazer uma farofa de ovo. Sem justificar a falta de maior participação na vida deles, muita coisa leva-me a entender o que seja a mancha do pecado original em relação aos pobres e bêbados, drogados e gente de rua.
Os muros altos das casas, cercas elétricas, cachorros bravos que sinalizam aproximação de qualquer um. Desconfiança e o medo crescente são alimentados pelas notícias e crimes que ganham destaque e criam o imaginário. Identificam moradores de rua ou mesmo pobres e mal vestidos como potencial ou efetivo bandido que chega para ameaçar. Pecado original que aparece no intenso desejo de conforto, vida mansa e não "caçar pulga para se coçar" . Passantes assim, são vistos como indivíduos que tiram a "paz".
O pecado social nasce do medo, leva a afastar todo o desconforto e até a montar um teatro mental que vê, em tudo, risco e mais riscos. Entretanto, viver perigosamente, ficou para o mundo do esporte radical, sendo impensável para o convívio social. Contra esse fechamento individualista ou corporativo, o Papa Francisco tem insistido em abrir as igrejas, acolher e ouvir os pobres e necessitados. ..."prefiro uma Igreja acidentada, ferida, enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças".
Ao passar pela Igreja de Jesus de Nazaré, olhando a área coberta e arejada, sonhei como espaço de abrigo noturno, banheiros e armários simples para guardar os raros objetos de uso dos deserdados da redondeza.
A Mãe de Nazaré, como vizinha dos pobres, terá Jesus a dizer para os que querem um vinho novo na vida e têm mais posses: "Fazei o que Ele vos mandar" (Jo.2,5).
Assim a soleira da Igreja de Jesus virará um sol radiante de amor aos pequeninos do Reino e não a tenda dos poderosos da religião.











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