SOL CASTIGANTE EM MÃOS SEM REMO -PERDIDOS POR DESATINO

Nesta postagem, pretendo brindar meus leitores com essa pequena aventura, um pouco humorada, mas capaz de mostrar um atrevimento, além da conta. Trata-se de um fato do tempo que passou e deixou para mim algumas lições. Nem sei dizer se servirá para quem atentar para as entrelinhas.

Difícil acreditar que aconteça conosco, quando a ousadia, como virtude, beira a irresponsabilidade. Conto uma travessia que realizei com uma equipe nas águas do lago de Coari, Amazonas. Um grande e maravilhoso lago, formado e abastecido por três rios que desaguam e se represam pelo Rio Solimões. Conto um desatino que deu na cabeça e aconteceu sem planejamento.

Aventurei-me atravessar apenas a terça parte que fica entre o rio Aruã e a costa das matas e lagos para o leste do grande Rio Solimões. Era uma tarde de muito sol. Vontade louca de pegar um vento no rosto ou uma surra no peito, porque resolvi tirar a camisa. Vento gostoso batendo forte, sob aquele sol, que não parecia uma carícia de luar que já experimentara sobre o toldo de um barco.

Nem pensava nos cabelos com os fios, olhando para trás, tomando forma de esfinge egípcia, coroada de sol e jeito de onça. Éramos dois, eu e o Antônio Nazaré, parecendo vencedores nas arenas da Roma Antiga.

De repente, no meio daquele delírio de poder, a hélice do motor bate numa simples varinha flutuada e estoura. Apenas barulho ensurdecedor da máquina, junto a paralização completa da navegação. Mergulhamos no silêncio total, mas com uma bruta questão para resolver: como voltar para o barco, tão distante que estava, como um risco leve no horizonte perdido.

Sinceramente, era desolação e insolação. A sensação de poder e prazer sumiu ao toque da varinha flutuante, certamente que era um galho de árvore verde. O frescor do vento cessado, tinha virado espinho na carne e vermelhidão.

Lembrei-me do amigo Pe. Kevin, com sua versão da luta do pequeno e franzino Davi contra o potente filisteu Golias. Kevin pregava sobre o pequeno gigante Davi que confiava na força suave de quem está na mão do Senhor. Naquele momento, apoderou-se de nós a sensação de pequenez, diante daquele "mar" ou lago de dificuldades.

Sem remo e sem saber o que fazer, notamos que o vento e alguma correnteza formada por ele, nos arrastava sobre as águas. Dois pequenos "davis" perdidos e entregues ao sopro da natureza bonita e amada por Deus.

Uma outra vara, esta bem maior é avistada por nós, passando perto.. Pensamos que se uma vara nos parou, a outra servirá de remo para ir na direção que o vento levava. Tudo doía em nós e se viesse a chuva aliviaria a sensação térmica do sol, mas nos arrebataria sobre as ondas. Não há o que fazer, mas tudo para confiar na bondade de Deus, diante daquela situação que ia ficando dramática, mesmo com gosto de aventura.

Vimos a bolsa de ferramentas e confirmamos que não havia nenhum pino para substituição daquele que quebrou. Meu amigo Antônio, que daquele dia em diante, virou mágico, encontrou um prego velho enferrujado dentro do bote e usou como pino.

Com tanta demora, o barco grande com o Sr. Raimundo, fiel socorrista, já estava preocupado com nossa ausência. Enquanto isso, o Antônio conseguira usar o prego como pino, ligar o motor e sair bem devagarinho na direção do barco.

Apoderamo-nos da nossa pequenez, esfriamos o orgulho e esquentamos a confiança no Senhor que providencia, na natureza dos rios, as ondas no vento para nos empurra ao destino planejado. As margens do lago que represam tanta agua fornecem os caniços que se se ligam a nos para o destino. Aprendemos que nada é inútil que se apresenta a nós. .

Essa aventura nos custou alguns sofrimentos, mas vencemos. Ficou a lição da parábola de Mt. 25, 1-13, na qual nos identificamos com as tolas que não tinham óleo para suas velas. E nós que queríamos atravessar o lago, sem levar o que poderíamos precisar, quase fracassávamos.

No fundo na alma, a lição do pequeno Davi, como ensinara o amigo Pe. Kevin, falando sobre o segredo da vitória contra os Golias.