SALINEIRO DO SOL BRILHANTE FOI DESEMPREGADO PELAS MÁQUINAS E EXPLORADO ATÉ IR AO SINDICATO
- peixotonelson
- há 5 dias
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Havia um comandante peão, de nome Galdioso, no Rio Grande do Norte, RN, Brasil, que criado no brilho do sol e do sal, viveu anos de sua juventude como salineiro. O seu Estado é um dos maiores produtores de sal marinho do Brasil, e esses profissionais são responsáveis pela extração e pelo beneficiamento.
Relatou-me sobre as condições de trabalho, no final dos anos 50, em Mossoró, RN, época de pesado e explorado ofício nessa ocupação.
Os pés não podiam ficar descalços, mas graças aos pneus grossos de caminhão, usavam pedaços cortados e amarrados com couro cru nos pés como calçado. Do contrário, os pés ficariam tão finos que sangrariam manchando o sal branco e deixando um rastro de dor muito revelador da miséria e expçoração.
Naquele tempo, homens valentes como o Galdioso, que sem família trabalhavam nas salinas, que são rasos "lagos" construídos destinados à produção de sal. Foi-me contando que a água do mar é bombeada para estes tanques, onde o sol e o vento evaporam a água, concentrando o sal e formando cristais que eram posteriormente colhidos. As salinas são, portanto, áreas de produção de sal marinho pela ação da natureza. Entretanto, para fazer toda essa estrutura acontecer, como recolher e transportar o sal, dependiam maximamente do esforço com o suor humano salgando os olhos.
Há na história do Galdioso e seus companheiros uma forma de resistir e melhorar o ganho com o sal marinho. Ele me contou que a maresia, como movimento das marés com vento forte, trazia água salgada para as áreas fora dos tanques dos proprietários. Esse sal era livre para os salineiros empregados. Os 12 companheiros de seu grupo recolhiam, amontoavam e alugavam um caminhão que saía pegando o sal de cada um, levando para a cidade de Mossoró, RN, a fim de vender e melhorar a renda.
O salineiro amigo dialogava comigo que, bem antes do advento das máquinas, tratores e bombeadores gigantes chegassem, acontecia lentamente a falta de trabalho daqueles "peões do mar". Registraram-se greves por aumento de SALário para o dono deixar de ser SALafrário, exigiam carteira de trabalho assinada para não serem informais e terem o "INSS" da época, a fim de serem atendidos em casos de acidentes. O Sindicato em seus tempos de luta significava mobilização e certa consciência de classe e de lutas por melhoria de SALário.

A luta dos salineiros no Rio Grande do Norte que se refere às greves e à resistência dos trabalhadores das salinas, acontece especialmente em Mossoró, onde o Galdioso era explorado nestas más condições de trabalho. A história registra que essa luta foi impulsionada pelo Partido Comunista do Brasil (PCB). Por incrível que parece para melhorar a vida dos salineiros, a luta era contra o estado, que era o maior produtor de sal do país. A resistência operária e a organização coletiva dos trabalhadores são um exemplo do poder transformador das lutas sociais.

Neste ano de 2025, um evento importante foi a reedição do livro (1) "História do Garrancho", de Brasília Carlos Ferreira, como declarou a governadora Fáima Bezerra. "Nosso intuito é que as novas gerações tomem conhecimento da história. Essa história que nos alimenta, nos humaniza e renova a nossa esperança”. O livro documenta a organização dos salineiros da Era Vargas e às vésperas do Levante Comunista de 1935.
O nome "garrancho" pode estar significando trabalho braçal, até então, de agricultores expropriados pelos grandes latifúndios, que, sem terra, deslocaram-se para trabalhar na indústria do sal.
A indústria do sal foi se sofisticando, declarou o Galdino, pois as máquinas chegaram para substituir o esforço humano, garantir mais lucro, deixando os ex-agricultores sem ocupação como aconteceu com ele. A solução foi migrar para ser candango, como se chamavam os heróis construtores de Brasília, onde criou família e depois dirigiu-se para Roraima, onde voltou a trabalhar como produtor rural.
Envelhecido e cansado de viver só, está com viagem programada para ir morar com a filha, em Brasília, e assim finallizar seus dias, não querendo ir morar em abrigo de idosos.
(1) O livro, que teve sua primeira edição publicada em 1986, foi fruto da dissertação de mestrado da autora na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A obra documenta a organização dos salineiros no período da Era Vargas e às vésperas do Levante Comunista de 1935.
Nelson Peixoto, em 18 de Outubro de 2025.











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