LENDAS COMO PRECONCEITOS AOS JAPONENSES HERÓIS NO AMAZONAS
- peixotonelson
- há 7 dias
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A Vila Amazônia da qual escreverei como relato de um amigo idoso, que nasceu nas cercanias da cidade de Parintins, AM, não é o chão de casas que se entende em uma parte do igarapé do Mindu, que percorre a cidade de Manaus por 16 quilômetros. Esta Vila Amazônia, da qual escrevo agora, foi criada para premiar os soldados da boracha, dando-lhes condições de reparar os sofrimentos na extração do látex a fim de abastecer os suprimentos da Guerra. A eles toda a gratidão, apesar do sofrimento dos soldados que perderam a vida, de um modo especial, os japoneses que padeceram com as duas bombas atômicas lançadas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki. Fato covarde, o primeiro e único momento na história em que armas nuclerares foram usadas em guerra e contra alvos civis.
Preciso falar da 2ª Grande Guerra, quando o Japão se denominou "Potência do Eixo" (Alemanha nazista, Itália fascista e o Japão, que queria dominar a Ásia e tinha os Estados Unidos como ameaça, assim como a Rússia com sua revolução socialista).

Acontece que desde 1920, após a 1º Grande Guerra, japoneses migraram para o Amazonas, através de um acordo bilateral a fim de deselvolver a agricultura.
Entre tantos outros grupos migrantes, um veio alojar-se em uma grande extensão de terra, comprada por um empresário do Japão, próxima à cidade de Parintins, Am, onde se formou um assentamento rural, que anteriormente se chamava Vila Batista, hoje designada e conhecida como Vila Amazônia.
Justamente dessa Vila Amazônica que meu amigo Andirá relatou o mito ou a lenda (fake news?), que se transformaram, durante a 2ª Guerra, em versões fantasiosas acerca dos japoneses que viviam produtivamente nas terras que trabalhavam com sucesso.
As notícias da guerra, numa época sem televisão, o rádio protagonizava, através da Voz da América, fundada em 1942, que servia como ferramenta antipropaganda contra países (Alemanha, Itália e Japão), sobretudo contra o nazismo. A aliança do Japão com a Alemanha, as notícias da guerra, através da transmissões do rádio, proporcionaram aos ouvintes do Amazonas de que o Japão era contra o Brasil, porque este entrou da guerra do lado de Rússia, Estados Unidos e França.
O Sr. Andirá, morador daquelas cercanias da Vila Amazônia. lembra-se do rancor e das desconfianças que os moradores passaram a ter contra os japoneses. Aquele povo rural, vendo o trabalho árduo dos imigrantes do país que brigava contra o Brasil, começou a inventar histórias, entre as quais meu amigo contou a seguinte, que achei extraordinária em criatividade e delirante.
Correu na Vila a noticia que os japoneses estavam construindo bombas debaixo d'água para tomar de assalto Parintins, apressando assim a vitória do Japão sobre o Brasil. Essa história, entre outras, foi gerando mais e mais uma rejeição muito forte e descabida contra os japoneses. Segundo meu contador dessa lenda ou mito, esta inverdade chegou aos ouvidos do Governador que tomou as providências. Por fim, a extensão de terra produtiva da Vila, trabalhada pelos japoneses, foi comprada por um grande comerciante de Manaus, que passou a liderar a política e a economia.

A juta que fora trazida pelos japoneses antes da guerra, em 1933, foi uma iniciativa bem-sucedida, quando chegou a estabelecer-se em colônias como a da Vila Amazônia, sendo a juta usada para fazer sacos de exportação de café, que era muito importante para a economia brasileira, que no Amazonas estava nas mãos dos japoneses. Durante a guerra, o governo desapropriou a Companhia Industrial Amazonense, que era responsável pelo produção e processamento da juta, ocasionando confisco e perseguição aos japoneses.
A violência da guerra chegou perto de nós, gerou preconceitos, alimentou a xenofobia, no caso aqui nipofobia (aversão, medo e hostilidade aos japoneses), que negava a fraternidade entre os povos, restando a nós pedir desculpas e chorar com eles os resultados das bombas atômicas que levaram o Japão a se render.
Que as lições do passado no trato com os japoneses que foram injustiçados nos abram os olhos e não deixem nosso coração ter como estranhos os migrantes que buscam viver com dignidade no Brasil.
"Onde o mundo vê ameaça...onde se erguem muros, constrói-se pontes. Pois sabe que o Evangelho só é crível quando se traduz em gestos de proximidade e de acolhimento; e que em cada migrante rejeitado, é o próprio Cristo que bate às portas da comunidade " (Nª75)
Papa Leão XIV, em sua primeira Exortação Apostólica com o nome "EU TE AMEI",
(Sobre o Amor aos Pobres)
publicada no dia 04 de Outubro de 2025.
Nelson Peixoto, Manaus, AM, em 29 de novembro de 2025.











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