PRESENTE, DONS E CARISMAS DE DOM JACSON NO 77º ANIVERSÁRIO- LEMBRANÇA DE SUA ARTE E MISSÃO
- peixotonelson
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Neste primeiro de setembro de 2025, do mês seguinte ao mês vocacional, celebro com os amigos o 77º aniversário do Jacson D. Rodrigues, já no Céu do Pai de Jesus, intercedendo por uma Igreja toda ministerial, à serviço do Reinado de Deus mais do que da religião católica, com seus dogmas, ritos e devoções, acertando e atualizando-se para reviver o Movimento Original de Jesus com a memória viva dos primeiros dois séculos, antes da entrada de Constantino, anos de 306 a 337 d.C.
"Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste essas coisas dos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim te aprouve" (Mt, 11,25-26).
Éramos jovens missionários redentoristas, no meio de estudantes para o presbiterato e de jovens postulantes à vida religiosa feminina. Cada grupo ou dupla teria que confeccionar um painel como expressão viva do seu carisma fundacional, na forma mais lúcida, criativa e sintonizada à história e à presença enculturada de sua Congregação na Amazônia. Aí, o Jacson e eu, nos reunimos e nos unimos para construir o painel do nosso Carisma Redentorista e sua espiritualidade, tarefa acordada entre os grupos de religiosos e religiosas de diversos carismas.
Trazíamos, na nossa vivência, o início da experiência pastoral de trabalho evangelizador com castanheiros, seringueiros, juticultores e com ribeirinhos dos lagos e rios, por onde sonhávamos, num futuro adiante, viver com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) a Copiosa Redenção, atuando e consumindo a nossa vida missionária, ainda jovem e cheia de desafios.

Pois bem, para construir nossa exposição do Carisma Redentorista, começamos a concretizá-lo, com a beleza e a poesia das orquídeas, das praias e pescarias, das várzeas altas e dos produtos extrativistas que cansavam homens e mulheres para sobreviver da floresta e das beiradas dos rios e lagos.
Jacson sabia e rezava contemplando as densas matas virgens e verdejantes, que emanam vapores a formar nuvens e trazer as chuvas, contribuindo para a manutenção da vida em sua diversidade abundante, formando mananciais de água, à semelhança da COPIOSA REDENÇÃO que o movia a viver. Com esta consciência, com os pés no chão, as mãos ocupadas e os corações ardentes, tínhamos mais do que matéria viva para falar do Carisma, tanto assim que nos dava um santo orgulho, no meio de outros carismas religiosos, Estávamos certos da fecundidade de nossa apresentação para a vida da Igreja na Amazônia.
Passo a descrever o que ainda guardo na memória, para homenagear este amigo e irmão, DOM JACSON DAMASCENO RODRIGUES, em seu aniversário de 77 anos, que fora o grande artesão da nossa obra. Tomou uma folha de madeira compensada e a transformou em chão da floresta, recobrindo-a com um manto verde com fibra de juta pintada. Riscos prateados, imitavam os rios caudalosos, serpenteando os espaços, como imagem das calhas dos Rios Solimões, Negro, Purus, Juruá e Madeira, por onde os grupos religiosos das Congregações tinham postulantes à Vida Consagrada que estavam a evangelizar desde muito antes. Eram redentoristas, salesianos, agostinianos, fransciscanos, adoradoras do Sangue de Cristo), em processo de formação para as juras de entrega de suas vidas, através da profissao dos votos de Obediência, Pobreza e Castidade .

Castanhas flrores e sementes de seringa contornavam o quadro que receberiam as mensagens chaves do nosso Carisma fundacional, intuído por Santo Afonso de Liguori e da Beata Maria Celeste Crostarosa, a fim de anunciar a Redencão aos criadores de cabras das serranias, distantes de Nápoles, em protesto ao clero que usava a pedagogia do medo. Clero abundante na cidade que vivia, confortavelmente, recebendo os privilégios da Igreja hierárquica e controlando a consciência do povo. Comprovadamente, a cometer abusos espirituais, que Santo Afonso vai combater ao anunciar a Misericórdia de Deus Pai e a liberdade do amor como fizera Jesus.
Até parece que, naquele estágio e experiência pedagógica entre os formandos à vida religiosa, acontecia a profecia do episcopado do Jacson, que viria a uns 15 anos na frente. Ora, seu lema episcopal seria: "Evangelizar os pobres e ser por eles evangelizados" que ostentaria seu perfil apostólico para o ministério de Bispo, que embora curto, foi fecundante de graças. E naquele quadro dos carismas congregacionais, estava escrito, com letras feitas em flanela grossa, este seu lema presbiteral que projetava seu futuro e se completaria como bispo.
A história da Igreja de Manaus registrou que ele foi e é considerado homem de Deus e do povo pobre das comunidades, em cujas homilias resplandecia sua mística de oração contemplativa, profecia e a entrega da vida, tal como fez Afonso. Pois bem, Dom Jacson foi ordenado bispo em 9 de março de 1987 e faleceu em 16 de março do ano seguinte. Seu ministério foi um relâmpago que não se apagou, e sempre permanecerá em nossa memória afetiva.
Seus irmãos, Maria de Nazaré, Luis Damasceno Rodrigues, Geraldo Damansceno contam-nos como encontraram Dom Jacson, no ambulatório do Hospital Militar, da Área de Manaus, deitado e sujo, porque viera de lancha pequena, deitado, e já sem poder andar, com as dores fortes que sentia. Ele estava em uma pequena Comunidade do Careiro da Várzea, fazendo visita pastoral, onde estava com o povo, para viver a Eucaristia, durante a Semana da Família. Aconteceu exatamente no dia de S. Raimundo Nonato, (31 de agosto), na véspera de seu aniversário de 49 anos de idade.

A sua irmã, Nazinha, conta que, quando carregaram o Jacson até a lancha, crianças vestidas de anjos que estavam debaixo de uma mangueira com ele, foram dar a Deus (literalmente) e despedir-se dele que estava sofrendo com dores atrozes na cabeça, o que logo se soube que tinha um câncer agressivo no cerébro. Lembrei-me que a uns 15 anos, em umas férias que fizemos em uma cidade de Santa Catarina, visitando uma amiga religiosa chamada de Têre Pacheco, ele sentira, de noite,, uma dor muito forte que nos preocupou, mas que no dia seguinte passara.
Daquele dia que viera à Manaus, trazido na lancha do Careiro da Várzea, AM, em diante, começara a via crucis de quem deu a vida por Jesus e a ofereceu ao povo ribeirinho que tanto amou.
"Deus quis que eu evangelisse com minha dor, pois Deus é muito bom".
Esta declaração foi a parte mais sublime de seu legado de intercessão por nós, junto de Deus Pai.
Nelson Peixoto, Manaus AM, em Primeiro de Setembro de 2025
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