OS CURIÓS CANTAM E TRAZEM O AMOR SUSTENTÁVEL E A MELODIA DA FLORESTA NO TEMPO JUNINO.
- peixotonelson
- 20 de jun.
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“NEM SÓ DE BUMBÁ COMPÕE-SE A MINHA MEMÓRIA”, declara o meu Xará Nelson José Fontoura de Melo que lembra com saudade o fim de sua infância em terras de longe. Mais do que isso, ele descreve uma disputa frustrada entre os cantos do pássaro Curió, nos dando uma lição de cuidado e de publicidade para as belezas que nem sempre sabemos apreciar e que estão deixando a floresta em silêncio de morte, devido ao tráfico de aves e ao desmatamento.
“Alguma reminiscência tenho aqui de um fato marcante dos festejos juninos. No meu passado muito antigo, quando eu era ainda um garoto, em São Domingos do Capim, PA, mas que me lembro ainda hoje com muita nitidez. Eu tinha 12 anos de idade, em 1959. Costumava-se festejar a época junina com danças folclóricas do "Boi Bumba". Mas naquele ano o tema não seria o "boi", mas os "pássaros" que evocam lendas representando uma tradição que alia teatro, dança, música, que nutrem as novas gerações do imaginário amazônico". Uma lenda, entre outras, que giram em torno dos personagens centrais que são o pássaro, o caçador e a mulher que o caçador ama, mas que tira a vida do pássaro. Entretanto, através de outros seres da floresta, protetores das árvores e dos animais, faz a vida do pássaro voltar triunfante para cantar e encantar os brincantes.
Curió, no tupi guarani significa “amigo do homem”, presente nos pântanos e plantações de arroz, nos dá a sensação de que a amizade é um tipo de fraternidade e justiça, como lugar onde ninguém passa fome. O bico grosso do Curió serve para quebrar sementes duras que são aproveitadas por outros passarinhos mais frágeis.

Meu Xará nos conta mais sobre a competição da sala de aula. Ganha o grupo de alunos que conseguir fazer o canto mais bonito e a dança mais envolvente e convicente para que o pássaro vitioioso seja o portador da Paz.
“A programação ao encargo dos alunos da escola municipal aconteceria em dois grupos, representando a defesa dos pássaros, através de cantos, plumagens de dois pássaros que seriam homenageados no drama a ser encenado. Aqui tratava-se do Curió Preto e do Curió Pardo. O grupo que iria representar o Curió Preto ia mostrar na primeira noite do festival, para apreciação do grande público, para votarem no mais bonito e cantador.

Com fantasias, danças e cantorias, cada grupo ia mostrar po rque seu pássaro era superior: mostrando as cores e melodias de cada tipo de Curió. Cada grupo ia demonstrar qual o canto do seu pássaro era mais alto, mais prolongado e inconfundível, talvez um fosse mais mais breve e de menor intensidade. Disputa que venceria que fosse mais harmonioso e ritmado. O mais bonito canto entre os dois tipos de Curió ou o mais belo colorido de um beija-flor encontrado.
Os alunos dos dois grupos ensaiaram durante todo o mês de maio em preparação para a apresentação pública no dia 02 de junho de 1959. O público presente na noite da apresentação iria decidir qual seria o pássaro "Rei da Floresta". Todavia, um fato inesperado impediu, suspendendo a realização daquele festival folclórico: na véspera da apresentação foi anunciada a morte do Governador do Estado do Pará, General Magalhães Barata, ocorrida em Belém, no dia 29 de maio de 1959.

Assim, até hoje, o dia tão esperado, 02 de junho de 1959 não me sai da memória e nem do coração, pois confesso que aquela data ficou marcada por uma grande frustração. Os dois grupos tinham treinado bastante para convencer o povo, que aguardava ansioso para poder dar seu veredito sobre o Curió Preto e o Curió Pardo". Ficou inacabada aquela experiência para nascer do coração a mansidão perdida, mas depois alcançada no correr dos anos.
Hoje, em Manaus, já viúvo e saudoso, passados 66 anos, minha opinião não tem validade, pois eu era um dos componentes do grupo que defendia o Curió Preto, mas reconheço os atributos do Curió Pardo.
Meu amigo perto dos 80 anos, nos presenteia com este texto comovente que provoca nossa vontade de ver a liberdade dos voos dos pássaros e os cantos que os conduzem à contemplação da biodiversidade das matas amazônicas.











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