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OS ALTOS BARRANCOS DA SOLIDÃO. EXISTEM HOJE OU SE QUEBRARAM ?

  • Foto do escritor: peixotonelson
    peixotonelson
  • 26 de set. de 2023
  • 2 min de leitura

Adiatado para o dia 30.09.23

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Os antigos habitantes dos lagos contavam-me casos em versões muito pessoais, provocados pela minha curiosidade, de alguém de longe que fazia perguntas sobre o passado, as épocas das “conquistas das grandes propriedades de terras", essas banhadas pelas águas que vinham dos rios e formavam a grande bacia de um lago.


Certa vez, navegando na lancha de nome Rina, o Detas parava e interrogava o caboclo pensando em dar o velho golpe da demarcação da terra. Sondava tudo com o intuito de passar a posse para o seu próprio nome. Chegava, cuidadosamente, perguntando sobre a plantação, a produção e a vida do posseiro. E daí, queria saber sobre a regularização da terra. Prontificava-se e oferecia ajuda a fim de conseguir seu objetivo, solicitando os documentos para ver. Oferecia, igualmente, mercadorias para os caboclos, prometendo trazer da cidade o acerto cartorial e tudo o que fosse necessário.


Assim procedendo, criava a dependência e a necessidade de ter patrão. Quando o posseiro queria comprar à vista e não fiado, o Detas, no caso que me contaram, punha mil dificuldades. Pois bem, o Detas não permitia. Quando o posseiro esperneava, ele dizia: “Nada disso, pois a terra é minha", e mostrava o documento da terra passado para o seu nome. “A terra é minha e podes ficar aqui como freguês ou dar o fora”. Acontecia isso, porque vendia mercadoria, de ano para ano, até o caboclo dever tanto que entregava o terreno para saldar a dívida.


Um caso bem interessante a seguir:


Por trás da propriedade de Maza, havia uma terra devoluta onde morava o Manuel Pafonso. Maza faz questão da terra, dizendo que é a continuação de sua propriedade. Um dia resolve dar fim a Manuel quando, na companhia de alguns homens, encontra-o. Manuel pede para morrer em casa e segue igarapé a dentro. Como tinha uma canoa pequena vai atalhando o igarapé, enquanto o Maza, que tinha uma canoa grande, ia fazendo as voltas. Manuel chega na frente, sobe em terra, pega a sua espingarda e espera o Maza chegar. Escondido numa touceira de bananeira, derruba o Maza, que morre na hora.

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Como tinha uma canoa pequena vai atalhando o igarapé, enquanto o Maza, que tinha uma canoa grande, ia fazendo as voltas pelo rio. Manuel adianta o percurso na frente, sobe o barranco, pega a sua espingarda e espera o Maza chegar. Escondido numa touceira de bananeira, derruba o Maza, que morre na hora.


Os dois casos mostram o clima de violência que imperava naquela região.


Declaradamente hostis, patrões e fregueses duelavam desde muito. Nessas terras, outrora distantes, remontam que os originários posseiros foram os primeiros a serem expropriados até que a invenção dos cartórios garantiu a posse da terra e serviu de resistência jurídica, que a maioria das vezes ficava para o mais forte, esperto e vindo para enganar.

Esse fato não significa que os atuais donos das terras tenham sido fraudulentos para adquiri-las, apenas tendo herdado de algumas gerações anteriores, mas talvez pensem que têm respingos de sangue nas mãos.


(Fotos de Gisele Braga Alfaia) - Texto extraído e adaptado do primeiro livro de Nelson Peixoto: "O Segredo Redentor dos Rios". Goiânia, Editora Alta Performance, 2021).



 
 
 

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