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O PERIGOS DAS "ORELHAS DE PAUS" NA TERRA DO FURTO E DA MENTIRA

  • Foto do escritor: peixotonelson
    peixotonelson
  • 14 de mar.
  • 3 min de leitura

Não se trata de filosofar sobre a diversidade do cultivo agroecológico e nem de criticar a fumaceira do agronegócio da soja ou as queimadas para a limpeza e expansão dos pastos. Na temporada de pouca chuva, a fumaceira ocupava o ar como nuvem baixa naquela área encostada à floresta, protetora dos animais e dos igarapés que alimentavam os rios. Era uma vida simples, de agricultura familiar e com muitos filhos para criar e educar, tendo como mandamento maior não tomar posse dos bens alheios e não mentir.

O fato que relato é a aventura de um grupo de crianças que fugiram de casa para pescar no rio próximo, chamado Benfica, PA, cujo nome já dizia que era bom, mas sem saber dizer até quando. Lá ficava o "Reino das Pimentas", ou seja, uma parte da plantação de pimenta-do-reino (Piper nigrum) e de alho-poró (Allium sativum).


Culturas importantes dos japoneses imigrantes que chegaram do seu país de origem, em 1920, e transformaram Tomé-Açu, PA, em 1940, na 3ª maior colônia japonesa do Brasil. Aconteceu que as plantações de pimenta-do-reino, devido às doenças, fracassaram. Entretanto, as plantações e os japoneses se espalharam para outras áreas da Amazônia.


Em Benfica, perto de Benevides, também no Pará, as crianças eram sempre alegres e corajosas para passear entre as plantações. Corriam livres e faziam suas incursões na floresta. Organizavam piqueniques com hora marcada pelos pais para voltar. Sempre alguma surpresa aparecia para atrasar a hora da volta. Elas seguiam borboletas azuis que driblavam as árvores, sumiam e apareciam mais adiante, alegrando as crianças com forte gritaria. Assim, aquele grupo de crianças não via os minutos e nem as horas se passarem. Afastavam-se do local da entrada da floresta e da hora de voltar para casa. Os pássaros, naquela manhã, pareciam calados ou sufocados pela fumaça, que apagava o brilho das folhas. Algo sofrido estava para acontecer.


Três fatos inéditos se deram até o fim daquela manhã. Primeiro, o grupo de crianças se perdeu. O segundo foi que uma delas, tendo visto um tronco derrubado, cheio de "orelhas de pau" (tipo de cogumelo), arrancou e começou a prender, entre o nariz e a boca, brincando e dizendo que tinha mais uma orelha no centro do rosto.


Neste momento, a boca do menino começou a arder, e em seguida, vomitou. Todos paralizaram e pensaram em voltar para casa, carregando o amiguinho doente. Mas se sentiam perdidos. Como voltar, uma vez que estavam longe de casa? Começaram a caminhar, imaginando que encontrariam o caminho de volta, observando as toras pobres de madeira, mas sem as "orelhas de pau".


Mas nada de encontrar o caminho de volta. Bate o desespero. Alguns começam a chorar. Aparece de novo a borboleta e eles resolvem segui-la. Com dificudade, chegam a uma clareira e se deparam com uma grande plantação de alho, tendo como divisão estacas que seguravam os arbustos de pimenta-do-reino. Um dos meninos, que tinha sido escoteiro, imaginou que alho e pimenta podiam ser um remédio para o amigo doente. Amassou o alho com uns grãos de pimenta para fazer masagem na testa do menino que vomitava. Passou o vômito, mas os olhos começaram arder. Assim aconteceu e tiveram um pequeno sucesso. Entretanto, menos desesperados, tiveram a noção de seguir o riozinho até onde havia um campo de futebol e, dali em diante, saberiam como chegar na vila e encontrar seus pais.


O escoteiro disse: "vamos levar umas cabeças de alho e apanhar um saqunho de pimenta. Nós inventamos um remédio caseiro que cura quem coloca orelha de pau na boca". Assim fizeram. Arrancaram algumas cabeças de alho da terra e colheram as pimentas. Puseram-se a andar, seguindo o caminho do rio, chegando à vila.

A mãe do menino escoteiro não quis nem escutar a aventura, mas foi logo ordenando que voltasse com os alhos arrancados e as pimentas colhidas, às escondidas. Ainda mais, procurrasse o dono da plantação e pedisse desculpas.


"Roubar é coisa feia, meu filho! Aprenda e faça de sua experiência uma lição de vida e ensine para seus amigos de aventura. Essa é a hora de aprender a não ficar com as coisas alheias. Filho, nós somos pobres, mas honestos".


Obs. Esta história foi inspirada por Antonio Claudio Ferreira, que eu chamo de "Foguinho", desde o seu tempo de moleque, cujo cabelo de fogo chamava a atenção e era o chefe da molecada, que ensinou seus amigos a serem honestos desde a infância até a velhice.


  • As belas fotos são da fotógrafa Gisele B. Alfaia via instagram @giselealfaia


 
 
 

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