O GALHO DE ÁRVORE À BEIRA DA FONTE E O CARINHO MATERNO.
- peixotonelson
- 26 de ago. de 2023
- 3 min de leitura

As postagens que faço, semanalmente, dão o que pensar e evocar nos leitores lembranças de histórias de vida pessoal ou de ouvir dizer. Escolhi amazonizar um fato que ocorreu em outras terras e mares.
Contou-me uma amiga distante que, de uma fonte, minava a água refrescante no calor da floresta, lembrando-me da imagem de um carneirnho a beber da corredeira que estava se formando e avolumando até formar um rio.
Chegavam ali outros animais da biodiversidade amazônica, de ferozes predadores a inocentes passarinhos, sugando o orvalho das folhas ao amanhecer .
Águas que escorrem das pedras, igarapés que transbordam em dias de chuva, formam lagos e abastecem os rios. Um dia, poderia haver uma onça indo beber água, levando os filhotes nos dentes para saciar a sede, entre folhagens e flores silvestres, na fonte que não secava mais no verão. Todos os bichos sabiam do milagre da fonte que virara igarapé em corredeira, onde borboletas dançavam sem se incomodar com as antas que vinham banhar-se.

Eis o que um nativo escutou uma voz e viu uma mulher: "Linda estou, mas veja que dos meus olhos as lágrimas estão caindo e se misturam com as dores dos teus parentes que sofrem com a derrubada das árvores e com o veneno dos garimpos".
De início, não se perturbou com aquelas palavras, porque seu olhar fixou-se na beleza da mulher, vestida de verde como a mais linda floração daquele paraíso.
Aos poucos é que foi se dando conta do resto da visão e das palavras da mulher, cujas lágrimas viravam pedras formando uma gruta que protegia a fonte e as margens do rio. Aconteceu que aquela gruta passou a ser frequentada pelos nativos do lugar e pelos moradores do mundo.
Todos foram abrindo os olhos ao lavar o rosto na fonte. Começaram a ver as derrubadas das árvores, a ouvir o barulho das motoserras e das bombas que sugavam o ouro dos rios. Com o tempo, sentiam-se ameaçados da expulsão da floresta e daquele lugar que adoravam de devoção. O local virou lugar de visitação.
Um menino, frequentador da fonte, sempre contava da beleza daquela mulher que virou mãe protetora dos filhos da floresta e afirmava que já a vira sentada no galho de árvore, encurtando a passagem de um lado para outro do rio. Entretanto, o galho virou cadeira e ninguém mais podia sentar nele, muito menos tocá-lo, bastando beber da fonte e levar um pouco de água para lavar o rosto e curar-se das cegueiras. A fama foi longe e chegou na cidade, trouxe esperanças para os doentes de câncer e de doenças contraídas das águas contaminadas de mercúrio dos garimpos.
Conta-se que, certa vez, uma mãe indígena descobriu que sua criança estava com um câncer indomável, apesar de muita medicação. Com a dor de perder a filha para a doença, lembrou-se da fonte que abrira os olhos dos cegos e tornara-se, com muito amor do povo, Santuário de Visitação à Mãe da Floresta. Passou a ser conhecida como Nossa Senhora da Amazônia.
Encontrei-me com uma amiga da mãe da criança com câncer, que me contou o que houve:
"Com os exames realizados e com o coração partido de dor pelos poucos dias que restavam de vida para a filha, fugiu do hospital, foi visitar a fonte e a gruta da mulher que aparecia. Ao chegar no local, a criança se agitou, como quem entrando em crise, e correu na direção do galho, à beira da fonte. Os vigias a impediram de se aproximar, mas ela passou e pôs a cabecinha sobre o galho. Os vigias a agarraram e ela gritou dizendo que foi a Mulher que mandou colocar a cabeça no seu colo".
Dias mais tarde, ao voltar ao Hospital do Câncer, o médico comunicou à mãe que não sabia como sua filha estava curada.
(NP)











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