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NOITES ESTRELADAS APÓS A CHUVA - UM TERROR PARA NÃO ESQUECER.

  • Foto do escritor: peixotonelson
    peixotonelson
  • 4 de mai. de 2024
  • 3 min de leitura

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(Fotos da fotógrafa Gisele Alfaia )- @giselealfaia

Com este título, vou contar de um entardecer tenebroso de chuva que, pouco a pouco, deixava de amedrontar. A escuridão da noite perdia para o encanto das estrelas que sustentavam o firmamento e piscavam, avisando que o canto dos pássaros noturnos era a certeza de que Deus estava ali, naquela noite. Por um tempo, elas brilhavam, mas logo sumiram.


Três amigos da floresta estavam à beira do rio, aguardando a chuva passar naquele começo de noite, enquanto o sol desaparecia e a chuva tinha castigado o rio, que ficara revolto. O banzeiro não permitia que os amigos fossem para o outro lado do rio, onde moravam. O jeito era passar a noite debaixo de uma árvore de castanha de macaco, que chamam de sapucaia. O tempo corria e para animar a amizade, naquela a noite de espera, começaram a contar histórias.


Vai a primeira. A lua apareceu, mas logo se escondeu. Vinham inicialmente histórias de fantasmas que apareciam nos bananais. A noite estrelada lembrou a promessa de Deus a Abraão, porque muitas estrelas piscavam para o rio movimentado.  As famílias das margens estavam vivendo com a benção da filiação e do parentesco nativo. Naquele território as políticas públicas eram inexistentes, mas a fartura de caça e pesca, ainda alegravam a todos.


Certo barulho, ao alto do pé de sapucaia, desconcentrou a reflexão dos amigos. Caía sobre eles uma folhagem molhada respingando sobre a cabeça gotas de chuva que ficaram retidas nas folhas. Desconfiado, o mais experiente, disse que os macacos estavam jantando. Um deles, mais do que depressa, pegou a espingarda e atirou para o alto. Um macaco barrigudo (Lagothrix lagotricha) caiu no meio deles com estilhaços na perna e no rabo.


A partir daquele momento eram três vidas a cuidar de uma quarta machucada. O atirador já pensava que, passado o banzeiro do rio, no outro lado da margem, planejava fazer um jantar delicioso para saborear o macaco.  Todos protestavam, mas o afoito justificava, contando que se acostumara a comer macaco. Dizia da primeira vez quando degustava uma panelada de macaco guisado. Ao mergulhar a concha, trouxe a cabeça do animalzinho e a colocou no prato.


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Ele confessou que tomou um susto, pois imaginou uma cabeça humana de tão parecida, com aqueles olhos cavados e tristes. Para terror geral, ainda afirmou que um dos presentes levou a cabeça do macaco à boca e puxou os olhos para saborear. Que tristeza ou algo pior que não sei classificar. Diante do espanto de dois deles, que esperavam o banzeiro do rio passar, aconteceu uma promessa que saiu do coração arrependido de todos. "Jamais faremos isso"! Pois a intenção de levar o macaquinho para o outro lado do rio seria para cuidar e depois trazê-lo de volta para a família que vivia no grande pé de sapucaia.


Os três amigos e o macaco, após serenar mais o movimento das águas, aproveitaram para cruzar o rio. Entretanto, não conseguiram chegar do outro lado. Naufragaram. Apesar de ferido, o macaco que chegou à margem primeiro, e recebeu o apelido de “Macaco Moisés”, salvo das águas e da boca dos homens comedores de animais silvestres.

   

Aproveito essa terrificante história para lembrar das espécies de macacos (símios) que estão em extinção. No Brasil, país com maior diversidade de macacos do mundo, mais de um quinto das espécies estão ameaçadas de extinção.


A questão para nós é se podemos comer macaco, diante dos fatos de extinção. Os estudiosos de macacos e pesquisadores têm dados alarmantes. Segundo o relatório, “os macacos maiores são os mais populares do cardápio primata”. É o caso do macaco-barrigudo desta história canibal.


Num país como o nosso, de acentuada desigualdade social e concentração de renda, os macacos caçados para comer estão ficando mais raros. Infelizmente, o maior crime é matá-los para comercializar a carne.  Porém, o peixe ainda é a alternativa mais viável para matar a fome. Por isso que se justifica a luta pela conservação dos lagos contra as grandes empresas de pesca.


Meus amigos leitores de idade mais avançada, que vieram das florestas e rios amazônicos, certamente têm histórias mais interessantes para contar, acerca do respeito e do cuidado dos animais feridos e que lamentam a desvatação das matas.



 
 
 

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