NATAIS NA MEMÓRIA DE UM AMIGO "DEUS ME AMA MUITO" (D. JACSON)
- peixotonelson
- 7 de jan. de 2023
- 3 min de leitura

Deparei-me no Natal de 2022 com o livro de autoria da Irmã Aparecida Matilde Alves. A saudade bateu forte no meu coração, trazendo lembranças e fatos que convivi com o Jacson Damasceno Rodrigues. Tanto tomaram conta de mim, que lembrei de um Natal que passamos juntos, nas beiradas do Rio Solimões.
Para começar, copio o que a autora do livro acima citado e que recomendo, testemunhando, nos últimos meses, a entrega da vida de D. Jacson, consumido pelo câncer que o fez mártir:
"Você partiu, mas continua presente na vida das pessoas que o amam e na daqueles que, através deste livro, terão o seu primeiro encontro com você, e aprenderão pelo seu testemunho, que "O PAI O AMA, AMA MESMO, AMA MJITO!" (Ir. Aparecida M. Alves, fsp - São Paulo, Editora Paulinas, 1999 - 2ª Edição.)
Naquele Natal, há 40 anos atrás, aconteceu que Jacson e eu, teimosos por dom de Deus, não esfriamos o ardente desejo de executar o plano de celebrar o Natal do Senhor nas comunidades eclesiais de base (CEBs) do Rio Solimões, na paróquia de Coari. Horas antes, soubemos que nosso barco sofrera uma pane séria e não podia mais nos levar, sendo base da viagem em missão.
"Não desistir, sempre insistir e resistir frente aos obstáculos" foi o que fizemos, pois era a nossa marca e determinação. Decidimos sair de canoa "rabeta" motorizada, cuja hélice é segurada por uma haste de ferro. Avisamos que cada comunidade teria que nos conduzir de sua localidade até próxima. Confirmamos assim nosso roteiro de antecipação do Natal, entre os dias 16 e 23 de dezembro de 1982. E fomos, rio abaixo, peregrinando nas águas, corajosa e modestamente.
Pensávamos nos pioneiros redentoristas, que, neste ano de 2023, celebram 80 anos de presença missionária na Amazônia. Eles, certamente, tinham vocação de aventureiros do Reino de Jesus, seguindo as trilhas da simplicidade de Santo Afonso, quando reunia o povo das montanhas de Nápoles, na Itália. Aquelas chamadas "capelas do entardecer" tornavam-se para eles a proa de barco, de onde anunciavam o Redentor. Acontecia o grito redentor, na chegada e na despedida com a declaração: "o Reino está no meio de vós!".

Em relação aos pioneiros missionários, a nossa diferença era que a antiga lógica da visita de passagem se tornava, agora, o fato de uma presença dominical constante e um direito assumido pelos leigos. Nesse sentido, estava nosso investimento de celebrar a liturgia do Natal e da Páscoa em maior número possível de comunidades rurais, dando esse direito em igualdade com o povo da cidade.
A viagem de motor "rabeta" prosseguiria até quando o barco, após o conserto, alcançar-nos-ia no percurso. Nessa viagem, duas experiências de noite de Natal nos marcaram e são merecedoras de destaque. Uma na localidade do Camará e outra na Ilha de Trocaris, localidades no Amazonas, à beira do rio.
No final da celebração, durante o "Noite Feliz", que cantamos juntos com o povo e nos abraçamos, houve uma tremenda ameaça de chuva, trovoadas e relâmpagos. Dispersão ligeira pelos caminhos de volta, cada um para sua casa. Nós, ainda sem o barco, armamos nossas redes na casa de um dos dirigentes da comunidade e caímos em sono profundo. Amanheceu e continuamos na rede durante a manhã toda de chuva, parecendo uma eternidade sem fim. Impedidos de seguir viagem com a chuva que não parava e sem a "rabeta" para nos levar. Conseguimos carona para seguir viagem, lá pelas 15 horas.
Chegamos na ilha do Trocaris, pobre, alagada e com pouca gente para a celebração. Mesmo assim, naquela noite, houve mais um Natal ajudado pelos anjos. Cantamos "Paz na terra aos homens e mulheres de toda vontade". Sonhamos o que Isaías profetizava, como desejo mais profundo, quando escreveu que armas de guerra e de dominação se converteriam em arados (anzóis e malhadeiras), porque o Deus forte vinha fazer justiça aos esquecidos".
Nós ceamos tambaqui salgado nesse lugar, em que a hanseníase estava presente e onde chegava a faltar peixe fresco. Queríamos rezar a multiplicação dos peixes e dos pães num dia de fartura, dia que chegará no avanço calmo e paciente do tempo, germinador do Reino, com a garantia de Jesus.











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