LOUCO, MORTO, RICO OU DEPORTADO POR PRECONCEITOS

Na manhã de certo domingo, perguntei a um amigo sobre um desconhecido que passava por nós. "Ele surta, grita, fala em línguas estranhas e é evangélico louco, por isso não gosto dele". Tentei combater essa afirmação, mostrando que a doença mental acomete qualquer pessoa, como acontece com a doença física, não precisando ignorá-la ou insultá-la por isso. Após minha repreensão, lembrou-se de um acidente grave, quando machucou a cabeça, que o fez passar dias e noites em coma e depois com medo de ficar doido.
Foi-me contando. "Eu tinha entre oito e dez anos de idade quando, a andar e brincar nas ruas de Anápolis, GO, um carro de modelo Simca Chambord, carro de luxo do começo dos anos 60, levou-me para o chão, jogando com força a minha cabeça sobre o meio-fio".
De imediato, foi logo socorrido pelo próprio motorista que o acidentou, um árabe rico e dono de uma concessionária de veículos. Sem vacilar, deixou seu luxuoso carro de portas abertas para juntar do chão aquele menino esperto, levando-o para um hospital particular. Ensaguentado e sujando os bancos apresentava-se o acidentado com poucos sinais de vida. Os médicos disseram que duas possibilidades estavam em disputa naquele momento: morrer ou ficar louco.

O árabe Abdalla, percebendo a falta de esperança, foi perguntando o que se podia fazer. Naquele momento, um dos médicos dissera que chamassem médicos de São Paulo. Assim aconteceu, de imediato, com todas as despesas pagas pelo responsável.
Uma enfermeira, por providência de Deus, ao ver o menino, disse que o conhecia, porque os pais eram vizinhos dela. Procurado e noticiado, a partir daquele momento, abraçados para salvar o menino, passaram a ser dois acompanhantes em oração e cuidado. Foi uma cirurgia delicada e mais 30 dias em coma, parecendo uma eternidade para ambos.
Contou o menino, agora um idoso de 70 anos, que lembrava quando abriu os olhos e viu janelas abertas trazendo o sol. "Onde estou? Com a dor de cabeça, não conseguia pensar e, sentindo o carinho daqueles ao seu lado, despertou e a dor foi embora".
A recuperação estava em andamento, mesmo com a cabeça enfaixada. Certo dia, o árabe Abdalla para agradar o menino traz uma garrafinha de Fanta. Lembrança que não apaga, pois era o lançamento deste refrigerante. A brincar, eu disse: "fanta rima com levanta". E fui contando que Jesus estava também lhe chamando "levanta-te e anda" (João 5, 8-10).
Tanto foi verdade, que o temor de ter ficado louco dissipou-se. O trio começou a andar pelo jardim do hospital, colhendo flores e agradecendo a Deus, quando vinham visitá-lo, quase todos os dias.
Certa vez, o árabe Abdalla teve a coragem de dizer ao pai biológico que gostaria de adotá-lo sem objeções, acreditando que ambos já tinham provado o amor comum, devotando-se ao menino. A mãe, entretanto, devia ser consultada, pois guardava seu silêncio amoroso e saudoso do filho, no momento em que o marido veio dizer-lhe da intenção do estrangeiro e imigrante Abdalla, que já se sentia bem brasileiro.

A mãe, não obstante de ter prova do amor curativo do Abdalla para tornar o menino um filho adotivo, não abriu o coração para uma nova ferida que se somava com a ausência do filho que pensava que iria morrer.
O velho amigo contou essa história de sua infância, lamentando sua mãe que não permitiu que fosse adotado. "Hoje, eu estaria rico como herdeiro de umas das maiores concessionárias de veículos do Centro-Oeste".
Aproveitei a deixa para refletir sobre as contingências da vida, dizendo que o fato real era a sua trajetória humana que o trouxe até ali para contar essa história bonita. Se tivesse sido adotado, não saberíamos o que teria acontecido.
Para consolar meu velho amigo e fazê-lo deixar de delirar, eu sentenciei poeticamente: "Você floresceu no jardim de sua família, embora estando a viver agora fora dela". Este fato provou que, através do jeito de ser do árabe Abdalla, não faz sentido o preconceito, a aversão, a intolerância e a discriminação contra pessoas em decorrência de sua religião, da origem étnica precisar ir a um outro pais para viver uma nova vida.
Sabemos que os refugiados mulçumanos provenientes de alguns paises árabes não podem ser discriminados por causa dos atos terroristas cometidos por grupos minoritários, mas que não representam a totalidade do povo. Nem aprovamos que nas nações autoritárias sejam deportados os imigrantes, quer sejam mexicanos, latinos ou afegãos, pois sabemos que, graças aos imigrantes do passado, muitos países, tal como os Estados Unidos da América se desenvolveram num projeto de crescente civilização.
"E Jesus fez questão de acolher os que sua sociedade considerava excluido ...Como pessoa de fé, e com a ajuda de Deus, acredito que a unidade neste pais é possível. Honrar a dignidade uns dos outros significa recusar, zombar, desconsiderar ou demonizar aqueles que discordamos, escolhendo em vez disso respeitar nossas diferenças e, sempre que possivel, buscar um terreno comum" (Parte do discurso da bispa de Washington Mariann Bude fez a Trump)
QUE NENHUM PRECONCEITO DE RAÇA, RELIGIÃO, GÊNERO, DEFICIÊNCIA, IDADE OU DOENÇA, RIQUEZA OU POBREZA SE APODEREM DE NÓS E NOS FAÇA RETROCEDER NA BUSCA DE UMA FRATERNIDADE UNIVERSAL!!!
ABRE-SE A CLAREIRA DA ESPERANÇA DE UM OUTRO MUNDO POSSÍVEL!
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