IDOSOS SEGUEM VIVOS E NOS FAZEM SONHAR.
- peixotonelson
- 2 de abr. de 2022
- 2 min de leitura

Poderia ser dramática a morte dos idosos que conheci, antes de partirem, depois de certificar-me de suas ausências, de pensar sobre suas existências e de ter saudades! Eles foram a graça de Deus, a oportunidade viva para que o amor, a eles acontecesse, por meio do olhar, das mãos e da atenção. Ao longo de 15 meses, já somam-se cinco vidas de idosos que morreram e receberam uma pequena atenção e oração de minha parte. Todos viviam no ILPI (Instituição de Longa Permanência para Idosos) da Fundação Dr. Thomas, em Manaus. Os cuidadores profissionais ou "CUIDADOSOS", cuidando das dores dos Idosos, tiveram a aproximação de Jesus e a Ele serviram. Cada idoso lhes falava pela linguagem do silêncio, da dor e da lágrima, pela súplica por carinho e escuta. Certo estou, que as lembranças felizes também chegavam nas conversas rápidas e nos momentos de acolhimento, algumas vezes quando a solidão cessava e o conforto da fé acariciava o coração. Eu conversei com alguns desses velhinhos, que já estão na continuidade da vida eterna. A respeito de dois deles, eu só ouvi histórias, sem poder tê-los encontrado vivos.
(O menininho é meu pai e tia em 1915)
Duas vidas, uma mulher, acamada, provavelmente diabética, que perdera uma perna, gastou sua saúde como andarilha, sem família, provadora contumaz de álcool. Ouvi alguém dizer que era estressada aos extremos e despejava suas frustrações com palavrões, afugentando os presentes e aumentando sua dor. A ela nosso respeito e compaixão! O outro velhinho, que não tive tempo de conhecer em vida, tinha o apelido de "cachacinha". Alcançou os 101 anos, magrinho e perdido no mundo, mas acolhido para finalizar seus dias. Teve como remédio, para sua compulsão, o prêmio diário e autorizado de umas doses. Feneceu como passarinho quando faltou a "água" que passarinho não bebe. O mar da Misericórdia de Deus abasteceu sua alma e sua dor chegou ao fim. Alguém contou-me da parte mais dolorida da sua vida. Ele era um caminhoneiro. Sofrera um terrível acidente, quando perdeu toda a família. A partir daí, sua dor nunca passou. Dissera o amigo, cheio de compaixão, que um trauma incurável o fazia padecer.
Diante desses filhos amados de Deus, o sonho de Isaías, 65, 20, parece muito distante: "Já não morrerá aí nenhum menino, nem ancião que não haja completado seus dias; será ainda jovem o que morrer aos cem anos.."
Esse texto encerra, dizendo que será maldito quem não chegar a 100 anos. Mas essa "maldição" refere-se à sociedade que não aprender a cuidar dos idosos e não lhes amparar no percurso da vida.
Nem como criança, deve-se morrer, por descuido ou omissão de políticas públicas. Nem morrer como idoso, por abandono ou falta de compreensão.

"Vamos brincar juntos, Vovô e Vovó!"
SONHO POSSÍVEL?
Constatamos que na mesma área construída dos pavilhões onde os idosos se "isolam", tem uma Escola de Educação Infantil. O começo e o fim da vida não se comunicam. Muito triste tal fato, desperdício de sabedoria dos idosos e a privação do desenvolvimento da Primeira Infância. Cremos que a interação, entre eles , crianças e idosos, pode acontecer como indicador civilizacional.
Sonhamos com um Parque Infantil, enquanto "auditório ou vitrine", sem cercados e preconceitos, possibilitando ternura e beleza, como terapia contra o abandono e de vivência de ternura intergeracional.
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