GATINHOS E O CUIDADE DE DEUS - AMOR DE MÃE NO UNIVERSO TOTAL.

Estava com um amigo, morador de rua, varrendo a pracinha que serve de dormitório para ele e para quem mais quiser ficar ali, naquele "telhado sombreado" de mangueiras.

Nossa intenção era um misto de brincadeira e desafio ousado: fazer uma comunidade. Em contestação, meu amigo foi logo dizendo que os "outros não querem nada. E que chamar para esta pracinha, nem pensar, iam tirar meu sossego. Eles querem tomar minha cachaça". Mas, seria um GRUPO DE JESUS.

A conversa avança. Eu permaneço na defesa dos dispersos. Neste embate, encontramos uma caixa com uma ninhada de gatos. A mãe gata, bem tranquila, dando de mamar. Mas a ordem de uma moradora era levar a caixa para frente de um casarão, cuja marquise garantiria proteção contra as chuvas. O valor para salvar os gatos seriam dez reais, ela prometera. Assim, meu amigo colocou a caixa nos ombros e foi levando para o local. Fui junto.

Notei o carinho e a admiração do meu amigo pelos animais. Antes de chegar no local, a mãe gata pulou da caixa, deixando os filhos. Achamos que se sentiu em desolação e sem compreender o que acontecia. Levamos os gatinhos que estavam bem seguros e protegidos, apostando que a gata não abandonaria os filhotes. Aconteceu que ela os procurou e encontrou para amamentar.

Ficamos conversando sobre o cuidado que Deus tem por cada um de nós e o cuidado da mãe que nos protegeu e alimentou. E nos comprometemos cuidar do bichinhos, vê-los crescer até serem autônomos e se virarem sem depender da mãe gata. Garantimos ração e confiamos que os moradores de rua que dormem naquele espaço, cuidariam também como nós. Será nossa aproximação com eles para perseguir nosso intento de compor um grupo de "bichos humanos" que aprenderão a se cuidar e a descobrir o cuidado que o Pai de Jesus tem por nós.

Mas se não tiver ninguém que os note e se importe com eles ? Se a indiferença levar a declaração de que eles não têm jeito? E se o DIA DAS MAES não tiver gestos concretos que antecederam a data?

Na verdade, é muitíssimo difícil acreditar no cuidado materno e paterno de Deus, se ninguém os olhar como irmãos e os tocar com carinho?

A fórmula de empatia que Jesus chamou de misericórdia foi o exemplo que nos deu, como o único caminho para alcançar a Deus com nossos olhos e nossas mãos. Jesus contou parábolas como a do samaritano e disse o que sentiu seu coração:

"VIU, SENTIU COMPAIXÃO E CUIDOU DELE" (Lucas 10,33).

Cuidar dos gatinhos oportunizará momentos de diálogo e de descobertas da bondade de Deus, contrastando com a situação de abandono e dos sinais de "fracasso" em suas vidas. Será um caminho singelo da prática de Jesus, que atenderemos mais ao " Ide e Curai" do que ao "Ide e Ensinai".

Estar com eles, também, no silêncio que fala, no olhar que acolhe, na mão que apoia e com a palavra que o incentiva ao protagonismo transformador pela ação do Espírito Santo.

Obs. Depois de alguns dias, não sei o que houve, não vimos mais a mãe gata, depois desapareceram também os gatinhos. Meu amigo não falou mais no assunto. Não anda bem de saúde, mas não dá um trégua no álcool. Um outro que dormia ali parecia não se importar com os gatos. Notei que não havia empatia entre aquele que já era meu amigo e aquele que dormia perto dos gatinhos. Os gatinhos foram levados por uma santa mãe idosa.