GARRAFAS DE SONHOS NOS RIOS E NOS MARES - UM GESTO DE AMOR.
- peixotonelson
- 14 de out. de 2023
- 2 min de leitura

Durante as viagens que realizei, tive uma temporada de delírio feliz. Momentos que disponibilizava para respirar e relaxar sem pressa. Parecia que as águas nos pés provocavam em nós magias e sonhos, cartas de amor e exercícios de paz. Juntávamos as garrafas vazias e as cortiças para jogar, na correnteza do rio, nossas mensagens de esperança por um mundo sustentável.
Escrevíamos a lápis porque ficaria inapagável, mesmo se as rolhas gastassem com as intempéries dos rios. Aprendi esse truque com um professor de Antropologia Cultural quando nos falava dos mitos e das histórias do Alto Rio Negro. Contou-me que sua canoa virou numa cachoeira e perdeu parte do seu acervo de informações e pesquisas. Sua tristeza foi querer ser moderno e escrever com caneta esferográfica. Passei essa orientação para minha equipe e começamos a escrever a lápis.
Ajudava-os a imaginar e a escrever mensagens de fé e de esperança. Cada um se apresentava e dizia o que estava fazendo de trabalho, as motivações e o sentido da vida que levavam. Saíam poemas, declarações de amor a quem encontrasse e abrisse a garrafa. "Te encontrei! Abre este tesouro com registros de quem te imaginou curioso para descobrir a mensagem de ânimo, direcionando tua vida para as correntes do bem e da preservação da natureza. Segue firme e aproxima-te daqueles que esqueceste nas travessias da vida. Eles querem te achar de volta".
Algumas mensagens projetavam o ano quando alguém fosse encontrar e ler o segredo. Ano 2000, milênio novo, um mundo pacificado sem armas e sem competição. Reino da Solidariedade, onde todos os seres humanos já teriam aprendido a cuidar dos rios!
Recordo que ainda era comum jogar no rio latas de conservas vazias, vidros e plásticos em geral. Uma prática comum que a ética do cuidado começava a proibir desde então. Nós, pelo menos, fazíamos das garrafas envelopes de cartas carregando para o mar as mensagens para o futuro.

"Nós estamos ficando loucos", disse um dos nossos! Essa loucura era sinal das nossas esperanças e uma nova consciência ecológica integral. Eram desejos de repartir aquele momento efêmero num legado que o tempo não consumiria numa piscar de olhos. Algumas vezes, jogávamos as garrafas na correnteza forte, outras vezes, na calmaria das enseadas. De qualquer maneira, imaginávamos o mar infinito para guardar esses segredos e levar para bem longe nossa presença passageira.
Deus é o nosso mistério insondável de imenso de amor! Não ficaremos perdidos sem o seu abraço, mas encontrados por Ele e ancorados eternamente no coração da natureza que abriga e quer o mundo belo e habitável para todos!
Em 2015, depois de muita água inundar o mar, de plásticos e mais resíduos, 35 anos mais tarde, deparamo-nos com a encíclica Laudato Si do Papa Francisco, que trata do cuidado com o meio ambiente e com todas as pessoas, bem como de questões mais amplas da relação entre Deus, os seres humanos e a Terra, o Cuidado da Casa Comum e das Águas de Todos.
*A foto bela acima é de Gisele Braga Alfaia, com sua autorização e utopia, no instagram: @giselealfaia.











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