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FRENTES E FRONTEIRAS ABERTAS DE UMA MISSÃO MÉDICA SEM FIM.

  • Foto do escritor: peixotonelson
    peixotonelson
  • 6 de mai. de 2023
  • 4 min de leitura

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Cláudio é o nome que tenho na memória como o representante de uma geração de médicos que está se tornando rara. Seu nome completo fictício é Cláudio Lucano, em homenagem aos jovens que estudam medicina, compreendendo que Deus os chama para essa vocação de servir.

Em estilo aventureiro, entre o medo e a esperança, encontrei-me com ele, numa tarde, sem pressa e com serenidade. Colocamo-nos a conversar e a contar nossas aventuras. Resolvi mais escutar do que competir contando as minhas, sobretudo do tempo de missionário ocupado em integrar socialmente doentes de hanseníase.

O novo amigo identificou sua prática preventiva e curativa como "missões", entre os inúmeros projetos que viveu intensamente, desde o tempo de sua residência médica em Brasília. Para chegar lá, seu caminho de solidariedade e formação cidadã foi pavimentado, desde criança, em escola humanista cristã, de padres e irmãos Salesianos. Fui intuindo, ao ouvi-lo, que estava diante de um profissional valoroso nos gestos de servir, sorrir e passar confiança para os doentes em situação limite. Posso afirmar que o nosso Cláudio não encontrou Jesus, pessoalmente, como Lucano, na obra literária da escritora Tayllor Caldwell, em o "Médico de Homens e de Almas" (1960). A autora deste romance biográfico de São Lucas, patrono dos médicos, estuda e vai encontrar Jesus nos doentes que atende, anunciando que o Senhor da Vida não aceita a doença que o sistema de exploração e expropriação da terra do Império Romano e de outros tempos e lugares produzia. Tanto foi assim que, no tempo inaugural do movimento de Jesus, ele mesmo mandava ter compaixão com os que sofriam, ordenando: "Ide e Curai", até mesmo antes de dizer "Ide e Ensinai".


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Certamente, as fronteiras do saber do meu amigo C. Lucano tinham que caber nas realidades da dor e de abandono dos pobres que se colocavam sobre seu olhar perspicaz e diagnosticador. Sobre sua residência médica, como infectologista, contou-me algo significativamente importante, em termos de inspiração e prática médica em seu início de carreira. A UnB era o campo de pesquisa e aprendizagem em sua especialidade, que, situada na Asa Norte do DF, tinha o Hospital Universitário na cidade satélite de Sobradinho, a 24 km de distância. Tal fato, do lado dos residentes e dos acadêmicos, era extremamente dificultoso, devido ao deslocamento exigido para o acompanhamento dos pacientes. Por outro lado, ali perto da UNB, havia o Hospital do INAMPS, uma estrutura bem construída, equipada, com muitos leitos ociosos, mas a serviço da elite burocrática e política do Plano Piloto.

Os médicos residentes e entre eles, o meu amigo C. Lucano, ressentiam pela ausência de condições favoráveis para tratar a gente simples que vinha das regiões pobres de Minas, do norte da Bahia e de Goiás. Era final do anos 70 e início da década de 80. Os médicos residentes e os acadêmicos criaram um movimento social dentro da Faculdade de Medicina para forçarem uma decisão de ter, perto da Faculdade, o HUB (Hospital Universitário de Brasília). E assim resultou.

Em 1972, foi inaugurada a unidade hospitalar do Instituto de Pensões e Aposentadoria dos Serviços do Estado (Ipase), tendo como usuários os servidores federais, num período de mais recursos que permitiam ao hospital contar com uma grande estrutura, tornando-se um Hospital Escola. Nesse contexto, foi crescente a qualidade da assistência e da docência, que, segundo meu amigo Lucano, valeu a luta para atender aos mais necessitados, passando a ser considerado um dos melhores programas de residência médica do Brasil. Contou-me que quando o hospital se tornou HUB, a elite brasiliense estranhava a multidão de gente simples e trabalhadora que se encontrava nas filas de atendimento e ocupando 100% os leitos, outrora ociosos. Uma vitória inesquecível para quem exercia a Medicina como missão de vida. Em suas andanças, o meu querido amigo sofre ao não poder fazer mais nada para salvar crianças com esquistossomose e doença de Chagas em fases terminais. Como residente, adquire um grau alto como infectologista a descobrir junto com o professor de patologia médica, na Escola de Medicina, um surgimento endêmico de febre amarela, que começou a tratar preventivamente. Chegando ao Amazonas, a missão médica acontece no Exército. Disponível e com espírito aventureiro, abriu o coração e foi exercer sua profissão, ariscando-se em voos de helicóptero para várias regiões, inclusive de fronteiras. Realiza missões curativas e preventivas entre os Yanomamis no final dos anos 80 e se fascina com o pouso do helicóptero nas clareiras abertas em plena floresta pelos próprios indígenas.

Nesse tempo, a mineração em terras indígenas ainda era pouca e razoavelmente controlada pelo Exército. O genocídio dos Atroaris/Waimiris já estava em marcha, com o projeto da hidroelétrica de Balbina. Mais tarde, seria a mineração que afetará povos indígenas isolados. Primeiro, as operações extrativistas impulsionam o desmatamento, reduzindo o território habitado por grupos, aumentando as chances de contato, e agravando-se com o aparecimento de doenças, com as quais os nativos não estavam imunizados. Lucano conta das vezes que, em avião "búfalo", ficava por 15 dias em plena área de floresta na região do alto Rio Negro. Certa vez, viajou no DC3 da Missão Salesiana, pousando em pequenos campos de aviação, conhecendo de perto a generosidade dos indígenas que recebiam a todos os de fora para servir e serem amigos. Traziam frutas e beijus de mandioca sofisticados com a culinária italiana somada com a sua. Lembranças dos padres heróis de sua cidade natal de Porto Velho, do colégio onde aprendeu os valores humanos e a vontade de servir a humanidade nos lugares onde floresceu, viveu sua vocação médica e construiu sua família.

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Este amigo conheci através de sua filha cardiologista, que cuida de mim para que o coração bata mais tempo e desfrute de um envelhecimento feliz e próximo daqueles que tem idade avançada. Depois de tantos anos com foco nos direitos das crianças, estou ativista da defesa dos direitos dos idosos.

Quando conheci seu pai, ela disse-me com carinho elogioso para o pai e para mim.


"Nelson, que bom! Eu sei e fico feliz que deu certo! Você e meu pai são pessoas muito especiais, e eu sabia que vocês iam se dar bem!" (NP).

 
 
 

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