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FILHOS E NETOS DE SERINGUEIROS DO RIO JURUÁ, SÃO PIONEIROS DA EXTRAÇÃO DE BENS NO AMAZONAS

  • Foto do escritor: peixotonelson
    peixotonelson
  • 11 de set. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 25 de ago.


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Navegando no Rio Solimões, encontrei filhos e netos de nordestinos que foram cortar seringa. Alguns com pais idosos com problemas de visão. Decidiram baixar o tortuoso rio Juruá, Amazonas, aportar e passar a viver nas várzeas mais próximas das cidades. Com muito trabalho na pesca, plantando juta e cultivando feijão e banana, conseguiram adquirir um pedaço de terra para melhorar a vida e educar os filhos. Muitos, porém, já tinham se estabelecido na cidade. Assim, situo-me no município de Coari, onde trabalhei como missionário.

Os êxodos das famílias, fugindo dos seringais do alto rio Juruá, até o grande rio Solimões, são verdadeiras histórias de libertação, de mirabolantes aventuras, análogas à libertação dos escravos do tempo dos Faraós do Egito, contada pela Bíblia.

Certo filho valente de um "cabra vencedor da peste", indignado com a situação oprimida do pai, com inteligência e observação, resolveu, bem dentro da floresta, construir um batelão, ou seja, uma canoa gigante. Muito esperto que era, escolheu um lugar de terra alta, à margem de um igarapé, que na época das grandes chuvas, formava-se uma grande corredeira. Seu intento era fugir do seringal.

Numa noite escura, após um temporal assombroso, não vacilou, juntou a família e foi empurrado pelas águas da chuva do igarapé, até alcançar o rio Juruá, e daí, chegar ao Solimões. O grito da sua liberdade seria sair do batelão, pular na terra livre e começar nova vida, trabalhando arduamente, mas crendo em melhores condições. Trouxe toda a família e seu velho pai que passou o resto de seus dias, longe do cativeiro da borracha.

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Lembro-me muito das conversas que tivemos, após contarem-me essa história. Tinha uma velha revista com a estampa do Teatro Amazonas e um caderno, cuja capa mostrava um seringueiro montado numa bicicleta a ferir a madeira do látex, em alusão e ilusão poética da vida impossível de ser prazerosa ou de um caminho suave e tortuoso, entre as árvores da floresta. Quanto à figura surrada do Teatro Amazonas, tempo da "Opera House" para os ingleses e a classe dos grandes seringalistas e políticos da época, a conversa foi se dando assim:

Contava-se que das paredes, das frisas, camarotes e galeria, ouvia-se, nas noites, gritos e gemidos de dor, soluços e gargalhadas de assombração. Eu completava, figurativamente, que para os desenhos pintados no teto foram usados o sangue dos seringueiros, mártires da opressão, produtores das riquezas esbanjadas dos poderosos que, como contam, alguns mandavam lavar suas roupas de festa, na Europa.


Nosso olhar de fé e de solidariedade abrem os olhos para rever a história triunfante e fracassada da "hevea brasiliensis". Certamente, poucos seringueiros viraram seringalistas de grandes propriedades, que passaram, pelo menos, por dois declínios. O primeiro foi a prioridade para produção do café que o governo imperial deu, deixando os produtores da borracha, isolados, morrendo à míngua ou fugindo dos seringais.

O segundo declínio se deu, quando após a 2ªGuerra, a borracha sintética começou a ganhar o mercado, sobretudo, na indústria bélica e automobilística. O tempo passou para explorados e exploradores, mas o Teatro Amazonas permanece de pé, como obra arquitetônica maravilhosa, sentada sobre as dores dos pobres e esquecidos que não conseguiram fazer seu êxodo. São Tiago, apóstolo dos esquecidos, escreveu para despertar nossa consciência, quanto ao clamor ou o choro dos pobres: "Olhai: o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, e que vós deixastes de pagar, está gritando; o clamor dos trabalhadores chegou aos ouvidos do Senhor todo poderoso “.(Tg.5,4). E nós estamos ouvindo o clamor dos pobres?

 
 
 

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