CUIDAR POR AMOR É VIVER A FÉ EM OBRAS, INDEPENDENTEMENTE, DO SERVIÇO QUE SE OCUPE.

Fui festejar os 75 anos da presença amazônica das Irmãs ADORADORAS DO SANGUE DE CRISTO, cujo o dia era no entardecer de 25 de dezembro de 1947, quando o barco aportava em Coari, no Amazonas. Eu estava para recordar e agradecer minha convivência com as Irmãs, desde quando era criança. O que mais me marcou, naquela celebração, vinha como lembrança feliz de terem sido, algumas delas, alegres e dedicadas cozinheiras do Seminário Redentorista.

A missão daquelas "Irmãs Cozinheiras" impactava-me por vê-las ocupadas, distintamente, das funções de catequistas, de educadoras escolares, de enfermeiras ou de presença visitadora no meio dos pobres. A partir desse primeiro pensamento, fui lembrando do nome das que formavam a fraternidade ao serviço da formação dos futuros missionários que estudavam para ser padre. Mas elas sabiam que, se não chegassem ao ministério ordenado, tornar-se-iam seguidores de Jesus, mais do que adeptos de práticas religiosas e morais.

Cabe-nos refletir sobre o sentido mais profundo da missão das "Irmãs Cozinheiras". O que faziam ali, como que em exceção, aquelas mulheres da fundadora Santa Maria de Matias, que foram conhecidas também como Irmãs do Preciosíssimo Sangue de Cristo? Elas já anunciavam o Reino de Deus nos rios e nas estradas, mas estavam ali inteiras em missão.

Desconfio que o ANÚNCIO DA MISSÃO DO REINO DE DEUS, pregado e vivido por Jesus, na tradição de uma igreja institucionalizada, pode aparecer para muitos de nós apenas como atividades exercidas pelos padres e bispos, ou seja, pelo clero. É uma grande limitação entender assim! As atividades das Irmãs, que não fazem parte do clero, precisam situar-se no horizonte aberto da Missão da Igreja, Povo de Deus, igualmente assim para os leigos cristãos.

Para as Irmãs, mães e pais sem votos religiosos, a não ser do batismo, o ato de cozinhar, lavar os pratos em família, juntar o lixo doméstico e se preocupar com os resíduos sólidos a serem despejados nos lixões faz parte do cotidiano redentor. E tem mais: cultivar uma flor, cuidar de um animalzinho, estar atentas às necessidades da família, viver a maternidade ou a paternidade em suas mil exigências, com vivência vigilante das necessidades, têm um alcance de eternidade e estão bem inseridos no conjunto da autêntica Missão do Reino.

Causa admiração a dedicação incansável das mães no cuidado vital dos filhos, o tempo gasto e as energias dispensadas para o bem-estar de cada um. É louvável o exercício dos pais, vivendo a ameaça do desemprego e a angústia do salário insuficiente, tudo se somando como MISSÃO DO REINO, que acontece por fora das ações clericais.

A Vida Missionária pelo seguimento de Jesus, nas ocupações cotidianas da vida, ultrapassa a institucionalização canônica e fica fora do controle da religião oficial. A todos incidem as atividades de fecundação do Reino, no cuidado humano e na estruturação da vida eclesial, que não deveria ser tão diferente das ações da vida clerical.

Na vida em família, em comunidades de Irmãos e Irmãs, duplamente consagrados pelos votos de pobreza, obediência e castidade, realiza-se o projeto de Jesus. Tanto nas vizinhanças e nas reuniões em nome d'Ele quanto nos ambientes de trabalho e de folga da vida, germina, cultiva-se e cresce a Igreja/Povo.

A Igreja, pela força viva do Ressuscitado, não esquece a Encarnação de Deus, feito criança, nem da realidade da Cruz. "Vem e Segue-me" está posto para todos, independentemente da diversidade dos dons, apesar das diferenças que fazem parte dos passos no caminho aberto por Jesus.

"Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus'. (Gálatas 3,28).   

A Missão do Reino de Deus, compete a todos, florescendo e servindo onde cada um está plantado.