CARLITO DA VASSOURA GASTA, UM PEREGRINO FIEL "MALUCO BELEZA"
- peixotonelson
- 5 de set.
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de set.

Dia após dia, deparava-me com um trabalhador que sempre passava com uma vassoura diante de minha janela. Observava vassouras diferentes cada vez que o via, sendo algumas vezes gastas e, outras vezes, quase novas. Sem entender, fui questionando que algo poderia estar afetando-lhe de forma persistente a mente. Algo repetitivo, que nem me aventuro a diagnosticar, até porque quando o via varrendo as frentes das casas da rua, realizava a tarefa com extrema perfeição.
Entretanto, quem se aproximasse dele para perguntar algo sobre o que fazia ou onde morava, logo se apresentava: "sou o Carlito da Vassoura" e, de imediato, fazia uma reverência de estilo malabarista, indo até o chão, abaixando-se com uma perna dobrada e outra esticada, em velocidade admirável.
Diante dessa personagem, veio-me à mente figuras interessantes que já conhecera em minhas andanças e como que, sendo simplório e preconceituoso, não despertara ainda ao fato de que "de louco, somos sempre um pouco".

Veio-me, deste modo, um poema de santa loucura de Mário Quintana:
"Eu estava dormindo e me acordaram
E me encontrei, assim, num mundo estranho e louco...
E quando eu começava a compreendê-lo um pouco,
Já eram horas de dormir de novo!"
Diante da gentil presença do Carlito da Vassoura, da limpeza e do embelezamento que promovia na frente das casas, eu não fiquei perplexo para continuar a vê-lo como "louco beleza".
Meu intuito era conhecer um pouco de sua história de vida.
Em certo dia, avistei-o e saí correndo atrás dele, porque a velocidade de suas pernas era como relâmpagos. Chamei e ele, dispensando a namorada, foi caminhando mais lentamente e me contando a sua obra benfazeja na varrição pela frente das casas, começou pelo exemplo de um homem alto que chamavam apenas de Seu Vassoura. Este repartiu a freguesia e deixou aberto o caminho de novos clientes, que se multiplicaram no Conjunto Manauense, em Manaus, AM.
Todos os dias, é chamado para varrer as folhas das calçadas no conjunto de casas. Por um prato de comida, água gelada e roupas usadas e até um dinheirinho por ter verrido. De simpatia contagiante e respeitoso, tem a confiança dos moradores que já o conhecem e dos novos que verificam o capricho da limpeza que faz.

O Carlito contesta os moradores das casas ricas que criticam aqueles desempregados que batem nas casas para pedir, mas rejeitam qualquer trabalho quando são oportunizados para ganhar alguma diária. Sempre esses moradores dizem com escárnio: Sabem pedir, mas para trabalhar têm preguiça."
Alguns cristãos que não conhecem a subversão, que Jesus trouxe acerca da cultura da meritocracia, não aceitam a gratuidade do amor. Entretanto, aos moradores do Conj. Manauense, coube a sabedoria para distinguir a justiça como direito, sendo este é sempre menor do que a compaixão e a misericórdia, diante das necessidades humanas dos desempregados.
Então, para ilustrar o embate entre Gratuidade X Merecimento, Jesus contou uma parábola para falar que a Misericórdia supera a Justiça:
"Amigo, receba o que é seu e vá. Eu quero dar ao que foi contratado por último o mesmo que lhe dei (JUSTIÇA). Não tenho o direito de fazer o que quero com o meu dinheiro (MISERICÓRDIA) mesmo sem merecer? Ou você está com inveja porque sou generoso?’" (Mateus 20).
"Maravilhado pelo presente que excede meu mérito que eu me alegre também com aqueles que não tendo recebido a alegria de trabalhar em Tua vinha descobrem surpresos a gratuidade radical de Tua generosidade sem limites" (@fransysadaosj)
Nelson Peixoto, em 13 de setembro de 2025.











Comentários