CAFÉ COM GOSTO DE AMOR E O PÃO EM SEU FORMATO DE FLOR.
- peixotonelson
- 30 de dez. de 2023
- 3 min de leitura
Gente que nunca me negou um café nas longas viagens e paradas pelos rios. Não recordo de ter pensado neste generoso gesto de brindar minha acolhida, à beira da escada das casas ou na proa do barco.
Alguns sabores ainda estão na memória do coração, trazendo a cena até debaixo de chuva. Penso agora que o pó de café vinha de longe, despesa alta para um ribeirinho distante da cidade. Comprado quase sempre já moído no patrão ou trazido na rabeta, quando ele mesmo cruzava as ondas e entrava nos paranás. Alegre doação, gentileza generosa, não poupada, entrega alegre de boas-vindas ou de estadia com algum amigo agradecido como eu.
Era tempo de Natal naqueles distantes anos 80. Eu encontrava Jesus em gestos e não havia esforço de minha parte para vê-Lo em tanta gente humilde e solidária. Não era vinho, mas podia ser sangue, resultado do trabalho dificil e sofrido. Era café adocicado, servido em copo de vidro. Um tipo de "cálice de missa" e de convite para ficar ali por mais tempo.
Esses pensamentos de 50 anos atrás me invadem, neste Natal de 2023, povoam minha saudade pelo gesto que não tinha refletido suficientemente e agradecido a Deus. Gente santa que dava de sua escassez e dividia ou até finalizava o restinho de pó de café na vasilha da cozinha.
"Graças te dou, Senhor, na fartura de café, do sorriso e do convite para estar contigo! Aqui estou! Tenho vontade de voltar e de senti que o tempo não parou para quem continuou te procurando! Um pacotinho de café seria um complemento sutil para falar do meu amor e o meu melhor presente! "
Anos mais tarde, em missão de gestão das Aldeais Infantis SOS Brasil, eu tinha um caneco em cada casa, imaginando assim que minha presença se multiplicava e ficava perto das crianças. Uma "presença paterna simbólica", pensaria Karl Jung. Foi aí que imaginei completar o café com um PEDAÇO DE PÃO, em forma de HÓSTIA GIRASSOL, repartido em sementes para sinalizar um Natal sem fim e com a semeadura da Paz, do Direito e da Bonança, a partir de experiências de minha vida profissional.
À entrada da Vila, à direita, construímos um símbolo, cujo tema era uma Hóstia em forma de Girassol, que trazia a Missão das Aldeias Infantis, dentro da qual convivi com todos que se juntaram como colaboradores e parceiros, ao longo dos anos, servindo crianças e famílias.
Se eu não pude ser grão de café para aromar momentos de tristeza, pensei que poderia ser um arremedo de girassol ou de Hóstia como duas realidades que se sintonizavam numa nota, alimentando a solidariedade e tranformando a sociedade para ser mais próximo ao sonho de Jesus: O REINO DE DEUS.
Vidas entregues e gastas pelos outros é ser hóstia. Consumida no percurso dos anos porque tornou-se alimento forte e inesgotável de direitos e de justiça. E foi Jesus que abriu esse caminho, seguido pelo nosso fundador HERMANN GMEINER e pelos que se incorporaram com Ele na mesma causa tornando-se Memória Viva.
Trigo e girassol, flores que se reúnem nesse simbolismo. Se as flores do trigo brotam em pendões que se tornam Pão da Vida quando moídas, o girassol é uma flor única, que como sol busca a luz e aponta para todos os lados com suas pétalas. O Girassol concentra suas sementes em círculo para viver a unidade do amor que cura e salva.
Assim foi e, mais ainda, será daqui para frente em tudo que fizermos e recebermos por amor. "Fazei isso em Memória de Mim", disse Jesus. No último dia 20 de dezembro, completei tres anos de aposentado, desde então, com foco voluntário nos direitos dos idosos e amigos de vivência de rua.
Todo BEM para o ano de 2024, depois de um NATAL FELIZ de 2023.














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