CABELO DE PRATA NO SINO DE BRONZE
- peixotonelson
- 7 de jul. de 2021
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Os velhinhos varriam o salão para a festa, no final da tarde. O vento batia as portas e levantava poeira. Enquanto ventava, as amigas pintavam e arrumavam os cabelos. Havia um acordo entre elas: aparecer na festa e fazer a dança do arco-íris. Uma surpresa para o fim da noite.
Portas fechadas e muita ação para colorir os cabelos. No jardim, o perfume das flores ficou triste porque não podia entrar. O arbusto que todos gostavam e chamavam de "dama da noite" não poderia entrar sem ser chamada. O vento que entrou na sala, antes da porta fechar, rodopiou pelos cantos e fez um chumaço de cabelos prateados ao redor do antigo sino que guardavam ali.
Tudo pronto para começar a festa, mas de portas fechadas. A dama da noite, revoltada batia na porta. Lá dentro, o sino respondia com uma badalada só.
Os idosos cantavam, lembrando de um velho amigo que tinha viajado: "viva o sineiro da Matriz, todo dia toca batendo feliz". E entoavam diversas vezes.
Enquanto repetiam aquela melodia, as idosas apareceram, balançando suas cabeças coloridas. Era o movimento do arco-íris que parecia se mexer entre a terra e o céu.

Nessa visão que eu tinha, escutei o meu pai, de cabelos de prata, declamando uma poesia muito antiga de António Corrêa d'Oliveira: “Sino, coração da aldeia;/ Coração, sino da gente./ Um, a sentir quando bate;/ Outro, a bater quando sente".
O sol sorriu para todos. Ninguém estava fora da festa. A dama da noite tinha entrado. Estava muito cheiroso o ambiente, naquela manhã de domingo. Acordamos daquele sonho e fomos à igreja cantar louvores de gratidão e voltar para casa de mãos dadas.
Fim. Para um novo começo.
(NP)











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