top of page

ANEGÊ, LAGO, AREIA E ROCHEDO

  • Foto do escritor: peixotonelson
    peixotonelson
  • 29 de jan. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 30 de jan. de 2022

Tornou-se minha comadre, a Dona Anegê. O clima de confiança estabeleceu-se entre nós. Ela dispôs-se a lembrar sua história, tendo certeza e me afirmando que já não chora, quando se lembra e conta sua para alguém que a quer bem.

ree

Eu a conheci grávida do menino que seria o meu afilhado, pois nasceu no dia do meu aniversário. Sua mãe de acolhimento deu todo o apoio, durante e depois da gravidez. Concordou com a escolha para eu ser o padrinho do seu "neto", junto com ela, como madrinha do Emanuel.


As margens do lago para a Anegê, por muitos anos, traziam marcas e lembranças, pois fora maltratada, espancada e abusada por ali, tendo sofrido todo tipo de violência física e psicológica, em momento de extremo limite de suas forças e de esperança. Ela repete a oração que fazia: "Meu Deus me livre daqui".


Ponte, areia e água tornaram-se, para ela, sinais da morte cruel que Deus não permitiu, poupando-lhe a vida. Fora conduzida para a margem do lago, como um animal levado ao matadouro. Seria o fim de seu sonho, depois de tanto sofrer desde a infância. Queria sair da margem da vida e ir para uma situação nova de maior proteção, que garantisse seus direitos infanto-juvenis, rumo à uma emancipação honrada e feliz.


Já vinha descendo da cruz, desde a infância a sofrer abusos sexuais. E outra vez, naquela noite, estaria voltando para o alto da cruz e padecendo morrer sem socorro. Na noite fatídica, aos 13 anos, sua história infantil chegaria ao fim, tragicamente. Por proteção divina, fingiu estar morta sobre um monte de areia à beira do lago. Nenhuma pedra lhe feriu o corpo, mas apanhou pancadas na cabeça que a deixaram atordoada, mas consciente para empreender sua fuga.

Na escuridão deserta foi jogada num bueiro para morrer. Conseguiu que seus pés alcançassem o chão e foi escorrendo e se escondendo do assassino até o lago. Entre as algas, disfarçou como desaparecida, saindo, apenas, quando teve a certeza que o assassino fora embora.


Correu, foi até a estrada e conseguiu que transeuntes lhe dessem proteção. Lamentável a Polícia não ter encontrado o malfeitor, que anos depois, comete um crime bárbaro matando, em parceria com a companheira, a jovem estudante dentro da própria casa ,que serviam como caseiros, enterrando o corpo no jardim debaixo da escada.


Salva, Anegê chegou a ver o assassino, algumas vezes numa van , buscando crianças, perto do abrigo onde morava. A polícia achava que ela estaria fantasiando quando relatava que o via. Infelizmente, somente quando cometeu um novo crime, que então, muito depois, a Polícia ligou os dois casos ao mesmo autor.


Minha comadre, abalada no limite de sua dor, de quase desejar a morte, nunca perdeu sua esperança. Não pôde voltar para casa e viver com sua mãe e os irmãos, porque o padrasto era um abusador e sua mãe tinha outros filhos com ele. Encontrou sempre pessoas que apareceram como anjos na sua vida. Irmãs religiosas de um convento, casas que serviam de abrigo, até chegar onde eu a conheci com toda a sua história triste e resistente.


Sabendo-se grávida de um menino, que nasceu no dia do meu aniversário, reviveu as esperanças diante do futuro que ,até hoje , se desenvolve com a mesma proteção da Santa Mãe de Jesus, que tem o título de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Esse fato aconteceu próximo a uma Igreja dedicada a Maria com este título, que é tão amada pelos seguidores do Carisma de Santo Afonso, os Redentoristas que são padres, irmãos, leigos e associados.


A partir do novo local de moradia, como recomeço em sua vida, experimentou viver em família, o que a fez pensar. "Por que teria Deus me preservado da morte, depois de tanto sofrer, desde pequena?"

ree

Aos poucos foi se convencendo de que Deus a protegeu para exercer a maternidade e reconstruir a sua vida tornou-se uma pedra que jamais se quebraria diante das dores e das perdas de sua família de origem. Como rochedo, à beira do mar bravio da vida, deixou brotar, nas rachaduras, as flores mais mimosas que se tornaram seus dois filhos. Ambos nascidos em outro momento, amparados pela ternura da mão de Deus , presente nas pessoas que a acolheram.

O filho mais velho de Anegê, tornou-se meu afilhado, o Emanuel, quando o batismo imprimiu o dom da filiação amorosa e redentora de Deus.


No Natal de todos os anos, o nome Emanuel que Lucas escreve tal como o Anjo anuncia para Jesus, assim se chamou o meu afilhado quando o batizamos, para ressignificar e afirmar, sempre, que é "DEUS CONOSCO' na vida de Anegê e de todos nós.


Assim, depois de mais de 15 anos, reconto com a mãe do Emanuel , esta história agradecidos a Deus. Rezo pela Anegê e sua família que é o seu atual jardim florido, anteriormente, regado com as lágrimas , que foram enxutas por uma mulher chamada Maria de Fátima, que a acolheu como filha, nas Aldeias Infantis SOS, em Brasília.

(NP)

 
 
 

Comentários


Olá, que bom ver você por aqui!

Sou um parágrafo. Clique para adicionar o seu próprio texto e editar. Sou um ótimo espaço para que seus usuários saibam mais sobre você.

Fique por dentro de todos os posts

Obrigado por assinar!

  • Facebook
  • Instagram
  • Twitter
  • Pinterest

Compartilhe a sua opinião

Obrigado pelo envio!

© 2023 por Quebra-cabeças. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page