AMAR A MISSÃO DO REINO E CONHECER AFONSO - 80 ANOS
- peixotonelson
- 22 de jul. de 2023
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Em 1962, no 19º ano da chegada dos pioneiroos da Missão Redentorista na Amazônia, eu estava no recreio de estudos no Seminário Redentorista de Coari, quando ouvi um colega comentando que o Santo do quadro na parede era o Santo Afonso, fundador das Missões Populares. E lembrei-me das atividades da Missão que participara em Itacoatiara, minha cidade de nascimento.
Ora, para não ficar calado, disse que meu tio padre tinha o quadro do santo fundador de sua congregação. Sim, o tio viajava pelas comunidades rurais distantes, as cidadezinhas do alto do barranco ou de boca de lago, e eu ficava extasiado e pedia para ir junto durante minhas férias. Acho que era o meu chamado vocacional. Fui umas duas vezes. Na primeira, não tive sucesso como passeio, o motor do barco quebrou e ficamos quase um dia esperando passar um outro para nos socorrer.
O tempo passou e, em um dia de luz, veio-me à mente a fantasia que contara dizendo que o meu tio padre tinha o fundador de sua congregação na parede da sala. Pois, só podia ser Jesus nos chamando a servi-lo como missionário.
Conhecer Jesus e Afonso pertenceu a boa parte da minha história até antes do noviciado, cujas ideias sobre um e outro eram sintonizadas. Fiquei triste porque, durante muito tempo, devido à disciplina seminarística da época nos anos 60, Santo Afonso me parecia o moralista que dava medo. Pecar seria perder-se e merecer o inferno, viver rigorosamente para não se afastar de Jesus. Penar na culpa por achar que pecar era a coisa mais fácil do mundo, além de sofrer de remorso. Entender que não rezar as fórmulas era estar à porta da condenação e perder o convite para estar com Jesus e amar Maria. Com certeza, era movido pelo medo, mas que ainda era obscuro saber-me amado infinitamente. Algumas frases repetidas da devoção de Santo Afonso eram viciadas de pavor e não de amor em minha imaginação. Até quando?
Lamento não saber de Afonso de sua amorosidade para com os "cabreiros abandonados", a que passei a conhecer durante o Noviciado, mas não o bastante como o tenho agora na terceira idade, depois de 13 anos nas beiradas dos rios e 26 anos no contato vivo com crianças e famílias vulneráveis pela pobreza, como gestor das Aldeias Infantis SOS, em Manaus e em Brasília.
No seminário maior, a pessoa de Jesus tomou forma presente e amorosa como referência para ser fraterno, para tratar bem as pessoas e para dedicar-me à intimidade com Ele. Jesus tornou-se o motivo primeiro do celibato e da pureza de coração. Amar e ver a todos com os olhos de Jesus, como ensinara o mestre Bill Tracy.
O curso de teologia moral com o Pe. Márcio Fabri, da Província de São Paulo, abriu-nos à liberdade do Espírito e não ao cumprimento restrito da lei, conforme testemunho da experiência paulina: "tudo posso naquele que me conforma com sua graça e me fortalece, mas nem tudo convém e nem me constrói", junto aos irmãos. Fui aprendendo com Jesus e com sua liberdade diante do judaísmo sacerdotal e comparsa com o poder político do Império Romano, que acabara a Lei, o Templo, o Poder e as Desigualdades do mundo. Enfim, fui me convencendo que chegara o Reino ou o Reinado de Deus, não como território, e sim como modo de proceder na vida para redimir o mundo, através de seus seguidores mais próximos, que eram os REDENTORISTAS.
"NELE ABUNDANTE É A REDENÇÃO "

Aquele Afonso celebrado na mente foi ficando assim mais perto dos afetos do coração. Era necessário ainda mais desmitificar o sentido do patrimônio moral deixado por Afonso. Para tal, a fidelidade a Jesus, nos livros do Pe. Haring e o ministério da misericórdia nas confissões, aconteceram nos meus 16 anos como padre e fizeram-me sentir o segredo de Afonso: é o Pai que nos ama primeiro. Assim, foi fácil convencer-me de que a melhor resposta ao AMOR infinito é amar, pois só o amor é digno de fé.
Em certo momento de minha vida, escrevi, de coração entristecido, que Afonso não se retiraria de mim porque seu legado de amor já fugira para o mundo dos leigos, fora dos "muros" canônicos.
Hoje, toda Congregação afirma com convicção e alegria que REDENTORISTAS são também aqueles que beberam da fonte da Copiosa Redenção, como seminaristas ou padres, mas que buscam e choram para seguir Jesus entre sombras.
JESUS, como Sol da Justiça aos abandonados e Fonte inesgotável de Misericórdia aos sedentos, fez Afonso aparecer para mim no fim de sua vida, em "Memórias de Outono", de Joseph Oppitz, com sua humanidade transparente de graça, com seus conflitos e lembranças do árduo e duro caminho que trilhou enquanto escrevia as "Glórias de Maria", "A Prática do Amor a Jesus Cristo" e as belas declarações a Jesus da Eucaristia em "Visitas ao Santíssimo Sacramento", entre outras tantas obras.
Afonso nos ensinou a Esperança como virtude, força nas estratégias missionárias para vencer o abandono dos "filhos de Eva" e nos mostrou que a Dulcíssima Esperança é Maria, desde os pés do Presépio à Cruz. Sim, ao rezar a "Salve Regina", nós cremos que Maria com seus olhos a nós volvidos diz que "Uma vez redentorista, sempre Redentorista", nas pegadas de Santo Afonso e do Reino.

Nesses 80 anos de Missão Redentorista da Amazônia, celebrada neste 22 de Julho de 2023, temos a plena convicção de que o Reino de Deus "foi o eixo e a força do que Jesus quis nos dizer com toda a sua vida e todos os seus ensinamentos" (José Castillo). Assim toda a Igreja e a Congregação Redentorista não anunciam uma religião, e sim constróem o REINADO DE DEUS nesse mundo.
(NP)











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