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A SEIVA DA ÁRVORE - DA CASCA GROSSA QUE BROTOU SANGUE.

  • Foto do escritor: peixotonelson
    peixotonelson
  • 1 de nov. de 2023
  • 2 min de leitura

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O Parque estava cheio de pássaros de bico calado. Desconhecia-se ali o motivo de tanta solidão. Borboletas raras saltitavam nas flores próximas. Notícias da guerra ouvidas no rádio de pilha de um idoso que cruzava o meu caminho. Barba branca, dando a impressão de estar ouvindo um "jogo" e torcendo pelo lado daquele que matava mais. Seria israelense ou palestino pensei no meu instinto de competidor em decadência para ser solidário contumaz. Fez-se silêncio, mas deu para ouvir o som do voo do anum preto, apesar do toc-toc da bengala do velhinho, batendo no chão, indo na direção de uma árvore preciosa.

Diziam todos que o chá da casca daquela árvore fazia voltar o tempo de menino, do tempo do serviço e da incorporação no Exército. O maior desejo era lembrar dos tempos que serviu como soldado, durante a ditadura militar do Brasil.

Era este o remédio que tanto queria para reeditar sua truculenta história. Precisava se lembrar de tudo para pedir perdão. Sem faca, usava suas unhas grandes para arrancar fiapos de casca da árvore. O tronco chorava derramando lágrimas. Nesse momento, a memória do vovô voltou e ele como num espelho viu sua vida de guerilheiro passar aos seus olhos e constranger seu coração. Mas, aquela árvore parecia que não estava ali, entre cipós trançados à beira do igarapé, cujas águas corriam para o Rio Araguaia. Chegavam lembranças de dor e dos tiros cortando as sombras que o vento sacudia.

Desolado, olhou bem a árvore chorosa, e viu um fio de sangue que descia num sulco da terra, na direção das águas borbulhantes. Ficou paralizado com o rádio dando notícias da guerra. Mas, levantando os olhos viu uma cacho de fruta-pão balançando. Agarrou com suas mãos trêmulas, sentiu uma lancetada de dor de estômago e pensou que a guerra podia ser contra a fome no mundo.


O velho soldado, cansado de guerra, estava entre a paralisia do corpo e o agito dos pensamentos macabros da violência, quando eu tive a coragem de puxar uma conversa, exclamando: Guerra, guerrilha, fome, morte, crianças ensaguentadas, rios de insanidade, tanques e cemitério a céu aberto! PAREM!


Num instante de luz, ele como tendo uma visão, me falou:" Veja ali, meu filho a 'Lua crescente' e a 'Estrela de Davi' se abraçando, num campo de girassóis. Um arco-íris se erguia sobre um jardim de flores diversas, mas entre destroços de paredão que isolava milhões de refugiados, correndo em disparada, deixando suas crianças mortas em sacos à beira da passagem. Todos de olhos lacrimejantes cantavam o futuro da nova humanidade para tempos de PAZ.


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Ele sentou-se no chão ao meu lado e rezou Shemá, Israel (Ouve, Israel).*

"Nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Dt 6, 4-5).


Entendi tudo. Jesus dissera para completar a oração do Shemá de Israel.: "O segundo mandamento é idêntico a esse. Amarás o teu próximo como a ti mesmo".


Os passarinhos alegres, as borboletas nas flores e o velhinho arrependido, me deu um abraço: "Pois é: SOMOS TODOS IRMÃOS, PALESTINOS E ISRAELENSES!


* O Shemá é uma das afirmações mais fortes e solenes de toda a Escritura que se transformou, posteriormente, na oração mais famosa do judaísmo, uma oração que Jesus completou. (NP).

 
 
 

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