A PARÁBOLA DO OLHO DE TRÊS PUPILAS.
- peixotonelson
- 21 de ago. de 2021
- 3 min de leitura

Era um vez um olho diferente. Riscado no chão e trabalhado, concretado, amiudado, pedregoso e encascalhado. Tinha, misteriosamente, três pupilas que olhavam em três direções complementares para que dessem conta da realidade, aquela possível de ser desvendada.
A pupila central, em forma de árvore, crescia para o alto, esgalhando-se frondosamente, e trazendo energia do sol para dentro da cabeça, tal como a terra fértil capaz de produzir frutos em abundância para a direita e para a esquerda. Era ligação mais importante entre olhar para o céu e olhar para a terra, ligar o passado e o futuro, entre o cotidiano maçante e os sonhos. Pupila Omnipresente, antes de todos os tempos e lugares, que também se chamava Compaixão Perene ou Providência Luminosa.
Descrevo agora, além dela, as outras duas pequenas pupilas, ao lado da central, que olhavam em direções opostas e negavam cruzar seus olhares para nunca sorrir, por mais que a "pupila central" insistisse para se prenderem ao destino final, ao ponto irradiante de todos os olhares de Paz.
Apesar de ser dupla pupila, os seus olhares juraram que não estavam envoltas em névoas espessas, e juravam ver a limpidez dos fatos como verdades absolutas que não se cabiam como parceiras. Pupila direita e a pupila esquerda fizeram, com muito custo, um acordo para unir os olhares à partir da ótica da pupila central e escreveram um novo tempo, com as seguintes promessas:
1. Tempo de Compaixão:
As diferenças seriam empaticamente ouvidas, deixando os juízos suspensos e toda reatividade impulsiva que afirma estar inteira com a razão.
Abrir-se para o não dito do discurso e perscrutar quais as necessidades que são demandadas no comportamento que aparece.
Atender a necessidade e identificar o longo caminho para a tolerância.
2. Tempo de Tolerância:
Do lugar de onde estavam os pés, cada pupila contemplava os fatos numa perspectiva, acreditando ter a luz suficiente para desvelar toda a realidade. O acordo seria: carregar o peso interpretado dos fatos mutuamente diversos, com ternura. Deixar que caiba dentro de si, algo que não se quer ou que não se pode impedir.
Tomar o todo pelo que se vê e acreditar como universal, só pode ser ouvido quando se ama. Aprender a carregar ou tolerar o outro e hospedá-lo sem remorsos.
3. Tempo de Hospitalidade.
Acolher quem bate à porta do pensamento como estrangeiro e abraçar sem resistências quem porta o pensamento, mas não o parecer do portador, ingenuamente.
Sentarem-se juntos para o diálogo sobre os sentimentos e não sobre os pontos de vistas. Revelar os medos, as lágrimas já roladas, o tempo perdido e obcecado por um ponto de decifração da História.
Ser capaz de confessar que o ódio podia ter maculado o olhar e desviado da fonte originária do Bem Maior.

Conclusão na ótica de Jesus que tudo vê e tudo sabe por amor.
Chegamos ao fim dessa parábola lembrando as palavras do Mestre da Compaixão, da Tolerância e da Hospitalidade;
"Por que reparas tu o cisco que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?
Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o cisco do teu olho, estando uma trave no teu?
Nós, às vezes "falseantes" amigos, ouviremos: "tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o cisco do olho do teu irmão".(Mt.7,3-5)
Assim sendo, a Luz do meio-dia, tão forte que é, extinguirá as sombras. Estas continuarão a ser convite para prosseguir o caminho do diálogo até o Dia do Ocaso sem Fim, quando TUDO será revelado.
"O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz do dia; e o que se vos diz ao ouvido, proclamai-o do alto dos telhados?" (Mateus 10:27)
Desejo que reflitamos nas possibilidades do diálogo que extirpam as atitudes condutoras de ódios e violências, mentiras e sofismas.
(NP)











Amém, tio! Que a graça de Deus nos ajude a descobrir esse espaço de mais compaixão, tolerância e hospitalidade dentro de nós!!