A FALA DO GIRASSOL NO AMANHECER E OS PLANOS DE SEMEADURA.

A noite em fuga chamava os pássaros para cantar. Três a quatro diferentes trinados cobriam o silêncio. Era assim o meu despertar nas madrugadas. Simples, embora minha mente trouxesse a oração para a ponta dos dedos. Preces apontando direções e ocupando meu coração com uma das flores que já cultivei.

A certeza absoluta do amor do Pai que me envolvia e se fazia companheiro de desejos de bem e de consequente felicidade inquieta. Queria movimentar-me, sentir a vida acontecendo em favor da minha família e das pessoas que encontrasse. Forte era o desejo de encontrá-las, estabelecer uma conversa, ser ouvinte, conhecer algo sobre elas e contagiá-las. Era uma conquista difícil, exigindo frequência de encontros, mútua cativação e oração.

Os dias pareciam correr velozes como as águas do Rio Mindu em dias de chuva, vindo desde a nascente onde já contemplei e registrei.

Meus desejos de servir se avolumavam, mas os resultados não dependeriam apenas do meu lado como o investidor das amizades. Naquela manhã, estava ali, meio paralisado, recordando a experiência que, nos últimos 30 anos, ficou limitada ao ambiente do meu trabalho de guardião e de gestor de equipe, mas com relacionamento bastante institucional, por mais que lutasse contra essa postura. Daquele jeito, embora com grande alcance, havia o limite o tempo e o contexto fechado para responder mais aos que me procuravam. Agora, na nova realidade em que me encontro, aposentado e livre, sem peias institucionais, sinto-me leve para levantar voos em novos afazeres e "jogar sementes de girassóis". Só não tanto , por causa da pandemia. Mas, ensaio iniciativas contra a institucionalização, quando em demasia e ofuscante do bem maior de pessoas reais.

Chegam muitas possibilidades que parecem oportunidades aventureiras e inovadoras, não querendo que se encaixem em regras e normas que pesem e me "obriguem" a fazer coisas do jeito preestabelecido e meramente ordenado. Lá no fundo, quero experimentar maior liberdade de criação e inovação no anúncio do Reino pregado por Jesus, humanizando a vida. Ansiosamente me pondo em contato por amizade pura e sincera, ampliando o círculo de minha presença para o bem e germinação de uma cultura de comunicação e solidariedade, mesmo indo contra a indiferença de quem, absorvido em seus problemas e centrado em cuidado exagerado, justifica-se pelos perigos passados em outros contextos. Nestes dias de 2021, me vem a vontade de fazer e refazer caminhadas às margens do Rio Mindu, andar por onde muitas pessoas cortam caminhos para alcançar as avenidas. Caminho marginal que cruza uma pequena ponte para pedestres, numa região que, nos anos 50/60, era uma super pedreira, dinamitada para a construção de casas. Segundo dizem, o pequeno rio tornou-se leito com buracos profundos e outros sem grande proporção, impossibilitando navegação. Outrora, também área de lazer das famílias que tinham terrenos, com fundos que davam para o igarapé.

Atualmente, nessa faixa que desejo conhecer, a demografia social se divide assim: - De um um lado, são fundos de casas comerciais, hotéis, shoppings e prédios que são referenciados por uma grande avenida; - Do meu lado, estão os moradores pobres que se alojaram nas partes mais baixas do vale do rio, área que alaga e sem valor comercial, cheias de becos que servem de passagem. Por hoje, fecho essa descrição dos meus pensamentos e projeções nessa temporada de minha vida. Muito agradecido ao Pai de Jesus e nosso, desde já em nome daqueles que encontrarei e caminharão comigo nesse plantio (NP- 2021) "Gosto de imaginar na minha ludicidade poética, que somos girassóis humanos. Lindas, fartas e ensolaradas pétalas. E o nosso coração é o miolo cheinho de sementes de Amor e de Luz." (Ana Jácomo)