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A CHUVA DEVORADORA DOS RIOS E O MEDO DAS COBRAS E TUBARÕES.

  • Foto do escritor: peixotonelson
    peixotonelson
  • 11 de mai. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 2 de jun.

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Navegando no Rio Solimões, acima, surpreendemo-nos com a vastidão das margens e dos barrancos quebrados, à direita. À esquerda, aparece o verde apagado das florestas e várzeas, ao longe. Nesta contemplação, em fim de tarde, estava sentado na proa do barco com um velho amigo que falava dos mistérios das chuvas, dos rios e das noites tenebrosas. Não havia medo no olhar daquele homem experiente de saber e conviver com as feras das profundezas das águas, que apareciam também à superfície. Imaginava que poderia ser uma de suas famosas “histórias de pescador”, uma lenda dos dias de juventude, já quase pedida na memória do ano de 1941. Talvez notícias tristes do grande rio, em nossos dias de desolação, sem as sombras das árvores nativas.


Ele logo me falou que as bocas dos grandes rios, em épocas se chuvas. não têm dentes para triturar as árvores derrubadas e os capinzais que chegam vomitados pelas bocas dos rios menores, indo até os grandes lagos, deixando um rastro de destruição. Por causa disso, foi comparando o encontro das águas como briga de cobra grande, que a mais forte leva a melhor e sai devorando tudo ao receber as torrentes dos rios menores.


O fato, segundo me falava, aconteceu numa dessas brigas monstruosas entre o Rio Capivarinha e o Rio Capivara. Perguntei se foi pelas bandas do Rio Grande do Sul ou do Rio Aripuanã. Ele disse que não estava no mapa ainda e que só ele e seu povo nativo sabia onde ficava.  Apreensivo fui ouvindo o que ele relatava.

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Havia uma ilha, no meio do Rio Capivara, que como olho vigilante, avisava a cobra grande quando as cobrinhas vinham boiando sobre o monte de capim que saía da boca do Rio Capivarinha. Não havia tempo para as cobrinhas alcançarem a margem e sumirem na floresta. Havia uma sabedoria da cobra grande para preparar seu “jantar de festa”. Engolia todas as cobrinhas que chegavam nos capinzais, e depois, trazidas pelas correntezas e depois, as vomitava no lago central da ilha. Após de uma longa engorda, ela preparava-se para o banquete apetitoso, encantada com o lago repleto de cobrinhas, igual a um monte de macarrão em movimento.


Eu escutava aquela história absurda, embora imaginativa e de terrível imagem. Apenas emudeci. O que será que ele queria dizer para mim? Mas, o meu velho amigo, após esse depoimento macabro, foi recordando que, durante sua juventude de pescador, observara que em águas cristalinas de um rio, os cardumes de piranhas perseguiam um tucunaré-rei de olho na costa.  Disse ainda, que a pesca seletiva do tucunaré é a causa principal dos lagos serem infestados de piranhas.


Nesse momento, comecei a entender o mistério adaquela história de pescador, cujo lago a cobra grande fazia ninho e criadouro para comer e continuar a mandar, que nem patrão, na boca do Rio Capivara, a enganar os pequenos produtores.   Mais do que isso, eu tinha ouvido algumas velhas lições de sustentabilidade ecológica. Recordava que quem faz controle das piranhas em lagos são os tucunarés. Se eles são pescados em demasia, a população de piranhas cresce muito, toma conta do lago, e mata os poucos tucunarés que ainda não foram para o anzol ou a rede.


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Meu velho queria dizer sua palavra final e recuperar a sanidade mental de sua invencionice. Mostrou-me uma página rasgada de um livro que estudara quando fizera um pequeno curso para entender as classes sociais e o comando dos “tubarões” do rio onde morava. Ele lagrimejando, disse-me em tom cheio de esperanças.


"Não precisava matar o inimigo, mas fortalecer a união dos pequenos que, quando organizados, põem para correr o tubarão."

 
 
 

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