A BOA NOTÍCIA, ALEGRIA DA FÉ E O MUNDO FERIDO DE UM AMIGO.

"Minha história fica comigo e com Deus", assim respondeu o meu novo amigo, quando falei-lhe da minha pretensão de escrever uma parte de sua história de vida. O Sr. JE, 73 anos, chamou-me a atenção quando eu conversava com um outro idoso que era queixoso da vida e inconformado com sua idade avançada. Esse outro amigo comum, com quem o JE convive em vizinhança, faz-me desconfiar que minha presença era pouco nociva. Funcionando como disparo das tristezas e lamentações quando eu me aproximava. Logo, retomava suas murmurações. Resolvi encontrá-lo menos e convencê-lo de começar a pensar um pouco diferentemente. Apesar de seu pessimismo, registrei suas visões e seus empreendimentos de arte. Aqui, entretanto, quero escrever sobre o amigo JE. Na semana passada, o JE que estava, ao longe, escutou o que eu falava para aquele nosso amigo e sinalizou, em voz alta, concordando comigo, que é preciso confiar e ter fé em Deus para poder enxergar o bem que existe no mundo e na vida da gente. Disse-me que temos de sobra sinais de amor, mas precisamos mudar de olhar. A maior notícia é a fé que nos dá. A partir desse momento, o JE vai abrindo o coração e revelando sua fé inabalável em Deus, dizendo-me, que nasceu católico, andou por outras igrejas para ouvir a Palavra de Deus que sempre acreditou. Chegava aos lábios dele, a grande promessa de Jesus: "se creres em mim não morrereis". E me dizia que "o corpo vai para terra, mas a alma vai para Deus..."

Contou-me uma história: "um homem morreu, chegou no céu e S. Pedro mandou o sujeito abrir a mala que estava num canto da sala. Ele foi lá e abrindo a mala, viu que estava vazia". Disse São Pedro: "Assim que é, meu filho, a gente chega aqui sem trazer aquelas coisas da terra".

JE , foi adiante me evangelizando. Lembrou-me dos dois caminhos, um com porta larga e a outro com porta estreita. Disse-me assim, "a estreita parece sem graça e a porta larga é a que chama mais atenção". Fiquei quieto ouvindo-o. Tossia bastante, mas continuava a falar de sua fé em Jesus e puxava um cigarro. Dava-me a lição para que nós não olhássemos o sofrimento e ficássemos vidrados nele de forma desesperada. Dizia que se a gente olhasse a cruz de Jesus padecente, entregando a vida e morrendo por nós. "Tudo vai passar, e Jesus vai nos pegar nos braços".

Essa fé nasceu de sua confiança em Deus e se mostrava diferente do outro companheiro ferido, mas em processo de cura. Sabiamente, diz: "quanto mais a gente nega o bem que está aí, tudo piora. inclusive a saúde!"

Deus ama a cada idoso da Vila Amazônia e traz esperanças como sensação de paz. Sem queixa e reclamação, a saúde melhora e a velhice fica mais leve. Deus ama, salva e vence a morte como Jesus. "Nós também, venceremos a dor e a morte porque cremos em Jesus no alto a Cruz consolando seus amigos", me diz.

Essa história de fé do meu amigo é um testemunho de fidelidade e de sua permanência no amor de Jesus! Ao longo da vida, não se abalou com as dificuldades. Teve os olhos fixos no Crucificado que, por amor, nunca se afastou dele. "Pedir perdão é um gesto que devemos fazer pelas coisas que feriram os outros".

Cita que o "bem que fazemos com a mão direita, a esquerda não deve saber. Com seus colegas, ele fala de Deus que é amigo, e fica triste quando alguém não se importa com essa verdade. Ele também me lembrou que os orgulhosos passarão e os humildes serão exaltados.

A vida do JE mudou de rumo, de um dia para outro. Encontrei-o jogando num chão imundo e "anjos" cuidando dele num quarta de instância. Escutei palavras de arrependimento de sua última aventura. Entre a autonomia de vida e os limites da idade e sem família, chegou a um consenso interior. JE retoma, mais uma vez, a sua terra prometida e provisória.

Aqui registro a fé do Sr. JE, que, entre um cigarro e outro, vai narrando com simplicidade o que Jesus falou: "os pobres possuirão a terra". E eu completo: uma terra sem males, sem idade para contar e viver numa felicidade sem fim.

Eu, ouvinte do JE, registrei essa conversa.