AS FAÇANHAS DO MECÂNICO MANAUARA NA COLÔMBIA DAS GUERRILHAS QUE FINDARAM
- peixotonelson
- há 7 dias
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O Sr. Flaviano Augusto, 63 anos, que conheci quando eu fazia o "casamento" entre os biomas do Cerrado com a Floresta, morando em Brasília, enviou-me uma gravação pelo WhatsApp, contando uma admirável e perigosa parte de sua história de vida. Seu relato lembra os anos que trabalhou em Manaus, como mecânico de motos, e hoje vive numa casa de repouso da Fundação Espírita de Brasilia.
O sonho de ser trabalhador nos primeiros anos da fábrica da Moto Honda, em Manaus, deixou-o frustrado. Em compensação, dedicou-se, curiosamente, a percorrer as oficinas e a observar o desmonte e os consertos das motos que rodavam e rodopiavam entre buracos da Manaus de antigamente.

Nos tempos áureos das indústrias do Distrito Industrial de Manaus, mais para a exportação e menos para o comércio local, a polícia colombiana comprara muitas motos para a cidade de Porto Inirida, Colômbia (1), cidade não tão grande, mas apreciada por guerrilheiros, nem sempre mansos, mas sonhadores equivocados, que desciam das montanhas para um banho de mar e, provavelmente, para o recrutamento de jovens sem trabalho e idealistas de um mundo sem violência e sem drogas.
Certa certa vez, um cidadão colombiano de bigode esteve numa oficina, em Manaus. Era um senhor graduado e pertencente à polícia da Colômbia, em Porto Inirida, próxima à Costa do Oceano Pacífico e à fronteira com a Venezuela.
Cidade que convivia com os guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias) e as combatia quando necessário. Este policial enviado pelo governo daquele país viera procurar um mecânico especializado em motos da Fábrica da Honda, compradas pelo governo colombiano, na época, convulsionado pelas guerrilhas e protagonizadas pelas Farc, que somente em 2016 deixaram de existir.
Enfim, elas defendiam os agricultores pobres na luta contra as elites favorecidas colombianas e se opunham à influência norte-americana. Outros interesses das Farc incluíam a luta contra a privatização dos recursos naturais. Uma situação dramática e conflitante porque parte de graduados do exército bandeava-se para o seu lado.

Foi exatamente nesse contexto que o Flaviano Augusto viveu sua profissão de mecânico, favorecendo a polícia ao patrulhamento e à negociação com os revolucionários. Lembra vagamente que um policial foi morto e teve a moto levada. Trabalhou muito durante dois anos e encontrou um outro grande amor de sua vida, mas que posteriormete se tornou cozinheira da marinha e longe do seu coração.
Assim, perdeu o novo amor. Pois só aceitara ir para a Colômbia porque estava separado da mulher, mas nunca esqueceu o casal de filhos que ficaram em Manaus com ela. Tinha consciência de sua responsabilidade de pai, mandando o dinheiro que ganhava com o trabalho de mecânico de motos.
Passados os dois anos, voltou para Manaus, estragou a vida misturando bebida forte com os remédios que tomava, até sofrer de trombose nas pernas. Segundo ele, apareceu em forma de patacas (manchas roxas), como me contou. E completou dizendo que foi uma injeção que o fez ficar sem andar, provavelmente, atingindo o nervo ciático.
No Evangelho de Lucas 5, tem um sinal de Jesus curando um paralítico, que não passava despercebido pelos vizinhos, tanto assim que deram um jeito de entrar na casa onde estava Jesus, rodeado por uma multidão que queria milagres. Naquela ocasião, Jesus ficou admirado, porque viu um grupo de homens tão interessados na cura do deficiente, que desceram pelo telhado para encontrarem-se com ele.
Jesus viu aquele gesto dos amigos como o verdadeiro milagre: o interesse e não a indiferença perante o arrastar-se daquele homem no chão do descaso. A união dos companheiros e o desejo de ver o paralítico voltar a caminhar com eles também era valiosa. Certamente, ali estaria uma parte apenas do verdadeiro milagre que se concluiu com a cura.

Meu amigo mecânico, alquebrado das pernas, estava esperando o milagre do interesse de quem chegasse a conversar com ele, mais do que correr por aí com pernas novas, a ponto de abandonar os companheiros da mesma condição.
Era bem melhor agora para dar as mãos calejadas e engraxadas pelo perfume da amizade daqueles que viviam em cadeiras de rodas com a mesma condição.
E ali ficou sorrindo com a solidariedade que cresce na defesa e promoção dos Direitos da Pessoa Idosa.
(1) Puerto Inirida, Colômbia: Conhecida pela pesca de peixes ornamentais e por sua paisagem natural. Fica no departamento de Guainía, perto da fronteira com a Venezuela.
Nelson Peixoto em 31 de outubro de 2025.











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