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O SONHO DO ANJO E A ESPERANÇA DO PALHAÇO TREINADOR DO CÉU.

Quando eu era uma criança estudiosa, aconteceu que, ao chegar ao refeitório da escola, encontrei sobre as xícaras de todos os alunos, uma “relíquia” com os dizeres escritos num papel: “Lembrança do seu Anjo da Guarda”. Curioso, percebi que eram penas brancas de galinhas. Admirado com aquela santa brincadeira, lembrei-me de um sonho que passo a contar, fazendo conexões entre as cenas que me pareciam distantes na memória e um tanto confusas com dois livros, com a diferença de 100 anos entre eles. Eu, com as penas nas mãos comecei a recordar.


“Sonhei que estava entre as nuvens do céu, acordando entre corujas, cigarras e borboletas, próximas de alguém que imaginava ser o mais idoso dos anjos. Porém, era o treinador, creio ser o descobridor dos talentos dos animais, vestido de palhaço. O nariz era verde, o chapéu parecia ser de maestro mágico com uma varinha na mão e cantando uma música, enquanto bailavam as borboletas e as cigarras em coro gritante espantavam as corujas que abriam os olhos para o andar de baixo das nuvens.”


Acordei e comecei a pensar, a decifrar, mas como era medroso e não queria nada de mistério, evitei que meu pensamento fosse em busca de significados psicológicos. Afinal, nunca gostei de ler Freud, quando tratava da interpretação dos sonhos, que segundo ele, era a vinda de um desejo reprimido na infância, que se disfarçava de mil formas e criava um enredo. Confesso que, até certo tempo, tinha medo do meu inconsciente, embora desconfiasse que, o que nós vivemos em vigília ou conscientemente, é muito mais comandado pelas nossas pulsões inconscientes. Esse era o meu dilema, que dificultava descodificar o sonho que viera para meu consciente, exatamente naquele dia dos Anjos da Guarda, ao contemplar a relíquia que eram, nada mais do que penas de galinha.  

 

Então, mesmo assim com ajuda de psicólogos sociais, fui conjecturando, na contramão, o que o “Animal Social”, que é o titulo do livro de Elliot Aranson, discutindo os aspectos singulares do comportamento humano e. tentando responder com profunda reflexão a influência que a sociedade sofre sob o impacto da comunicação atual massificante.


Nosso sonho, quero ver na negativa da afirmação daqueles que esquecem sua humanidade, negam a ética, criticam a solidariedade e optam pela agressividade. Até mais, a compactuar com organizações terroristas e a sentir-se à vontade com seus preconceitos, quase a seguir, fanaticamente, uma religião ou uma organização criminosa.


Por outro lado, na fidelidade dos símbolos que o sonho tematiza, apontam o inverso:  Céu azul, nuvens, borboletas, cigarras anunciando verão, corujas acordadíssimas, sábio idoso e treinador, que não estão na linha da ficção científica de “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley, de 100 anos passados.


Nosso sonho tem tudo de ternura, música, voos leves da imaginação, penas ao vento, guardiões e sábios, olhos abertos para ver a beleza da  vida e cantar a esperança de uma utopia que nos erga do andar de baixo das dores que a coruja enxerga; que nos arranque das agressões gratuitas, converta a violência garbosa e a indiferença política e nos tenha como protagonistas na construção de uma nova humanidade.


Assim vamos, conferindo que a alegria do palhaço é o humor que desestressa e não superdimensiona a desgraça, o canto da cigarra transforma-se em esperança, as borboletas despejam beijos doces e curativos sobre as feridas do mundo e a coruja faz sua lição da ética mais decisiva para o bem-estar de todos, pois não invisibiliza ninguém desta Terra.


Os anjos da guarda de nossas infâncias recuperam nossas crenças, deixam como relíquias o rastro fecundo e profundo que a bondade, enquanto virtude nos acostumou a vivenciar, com humor, a espiritualidade do riso de um palhaço.

*Créditos fotograficos são de Gisele B. Alfaia - @giselealfaia  


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